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domingo, setembro 11, 2011

O despertar da intimidade com as objectivas (V)

Muitos anos depois, o meu Pai comprou, a prestrações, uma máquina de fole, em segunda mão, de que depressa me apropriei, na qual todas as operações eram manuais, já que não existia fotómetro ou dispositivos ópticos para a focagem, e os rolos de formato “120” produziam negativos quadrados 5,2cmx5,2cm, donde se extraiam as chamadas provas por contacto em papel brilhante com moldura branca e por vezes com os bordos finamente recortados, mas já portadora de um lindo parasol prateado, e que até tinha estojo de cabedal e uma objectiva de 75 mm!. Com ela, fiz as minhas primeiras grandes“reportagens”!; a comunhão solene da minha futura Mulher, a viagem ao Algarve dos alunos do Liceu Pedro Nunes na conclusão do 7º Ano e as férias de verão com os meus Avós nas Termas do Vimeiro. Também com ela estreei o meu primeiro rolo a côres, numa parada militar na Avenida da Liberdade, mas cada disparo, mesmo a preto e branco, custava então uma “fortuna” e era preciso ser prudente e meticuloso para ir registando não o que apetecia, mas aquilo que a relação custo benefício, permitia. Eram tempos de se pagar uma revelação por cada vinte disparos e estávamos longe das lojas oferecerem um rolo novo, ilusóriamente incluído nos custos da revelação, como acontecia recentemente nos últimos tempos rolos de 35mm e dos Aps.



A minha máquina seguinte, uma compacta Olympus, comprei-a numa das lojas mais emblemáticas de Lisboa, situada na esquina da Rua Augusta com a Rua de Santa Justa, a Filmarte, não sendo pois ainda uma reflex, já usava rolos de 35 mmm, e permitia com o início do enrolamento feito às escuras impressionar até 40 fotogramas com cada rolo, mas essa caixinha cromada já não a posso reproduzir pois ela representou a minha primeira transação comercial com a vertente financeira da sua avaliação, visto que tive de a entregar para poder adquirir a primeira reflex, uma Petri FT, já com a potencialidade das objectivas intermutáveis, e que me acompanhou durante a vida civil do Serviço Militar Obrigatório. Antes da compra dessa primeira máquina “a sério”, fiz aquilo a que hoje se chama um test drive. Pela manhã, fotografei à porta da loja o elevador de Santa Justa e o Sr. Valadas, que durante anos me atendeu naquele longo balcão em v, e à tarde me mostrou o resultado da prova de contacto, que me convenceu nessa primeira grande aventura de 35 mm BW.



E logo fui procurar imagens da minha Cidade!


Durante o cumprimento do Serviço Militar Obrigatório, para o qual fui formalmente convocado pelo correio,


despontou impulsivamente a minha atracção pelo cinema, mas como para cumprirmos os deveres da vida não podemos dar passos maiores do que as nossas pernas, assumi que nunca poderia sequer simular as excepcionais condições técnicas de que dispus nesse período no Departamento de Fotografia e Cinema do agora chamado Instituto Geográfico do Exército.



Não tenho imagens originais de alguns aspectos desse período da minha vida, mas um companheiro desse percurso, jornalista na vida civil, fez uma reportagem publicada no Século Ilustrado, a revista semanal complementar ao Jornal O Século e que custava 5$00.



Não posso omitir a imagem da capa dessa revista, cujo incómodo me acompanhou toda a vida como quem me conhece compreenderá, onde foi publicada a reportagem do Valdemar Monteiro, um magnífico companheiro, que infelizmente faleceu num desatre de automóvel durante uma deslocação em serviço oficial. As imagens seguintes, e a anterior, correspondem às ilustrações do artigo intitulado “1.253 alunos frequentaram já o curso de cinema do exército”.


Por sugestão do Valdemar, aceite pelos nossos superiores, cada um de nós sempre dispunha de uma máquina de filmar Paillard de 16 mm enquanto dirigíamos as reportagens, embora acompanhados por um operador de câmara “profissional” que garantia o completo sucesso da nossa obrigação, como era o caso do Adriano Nazareth, que foi mais tarde Realizador de Programas na RTP Norte, Professor e Realizador de Cinema.


Embora o Valdemar esteja mais encoberto do que eu, publico em sua homenagem a imagem da nossa cumplicidade executiva.


No tempo que restava das minhas obrigações de Tesoureiro do Serviço Cartográfico do Exército, que tive de aceitar por ser o oficial miliciano mais novo, de Instrutor na área do som, e de cumprir com as escalas na chefia das reportagens externas, sempre procurei dar um salto aos laboratórios de fotografia para apreender a experiência dos técnicos de fotografia, ainda sem que o Estado detivesse orçamentos para experiências de côr. Desse tempo, conservo uma experiência de sobreposição física com um minúsculo desvio, de um slide a cores de um recanto do Alentejo, com um negativo da mesma imagem feito no laboratório, por contacto em filme inversível. Hoje, qualquer software para tratamento digital ajudaria a fazer isto em dois minutos!





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