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domingo, outubro 26, 2014

POSEIDON, dopo PAESTUM






Em Paestum, o nome que os Romanos atribuíram àquele território fundado no século VII a. C., que talvez não tenha sido “conquistado” na vulgar acepção da palavra mas sim recebido e integrado numa nova ordem, em que o território foi renovado de forma a integrar as novas “necessidades sociais”, existe um Museu de sítio, de invulgar dimensão, e porque é lá que se compra o bilhete que dá acesso à visita das ruinas greco-romanas, encontrámos um “cicerone” que nos ocupa algum tempo mas que nos prepara para compreender muito mais até do que a seguir se pode apreciar, pois para além da interpretação da antiga cidade grega de seu nome Poseidon ( o Deus do Mar) e da exposição de parte dos resultados das escavações arqueológicas ali ocorridas, que demonstraram que como tantas vezes se percebe nestas ocupações grandiosas o local foi habitado sucessivamente desde o neolítico. No Museu, também se expõe os materiais trazidos à superfície noutra escavação realizada em 1961, entre o Templo de Ceres e a Porta Áurea que vão desde o neolítico final até à idade de bronze.
Se Goethe tivesse tido razão, e não vejo porque duvidar de um artista tão culto, a “mais perfeita ideia” que levou consigo “intacta para o Norte” como descreve na sua “Viagem a Itália” em 1787, o templo do meio (Neptuno) é “melhor do que tudo o que se pode ver na Sicília”, foi portanto um rigoroso conforto poder ter chegado ao fim da noite deste tão especial dia 12 de Outubro para as nossas vidas, e começar a procurar fazermos o balanço dos traços imaginários que os Monumentos de Paestum rasgaram no pano de cena desenhado com o Vesúvio em último longínquo plano, e ter consciência de que as melhores memórias ou ficam rabiscadas ou ficarão perdidas com a morte celular que as esperam, e entre os sinais inesquecíveis do passado, o recorte colunar merece o melhor dos esforços no seu destaque cromático.
 
 




A colónia grega de Poseidon tinha uma planta quadrangular, protegida por uma forte muralha e quatro entradas orientadas pelos pontos cardiais, mais tarde significativamente reforçada na época romana tendo um perímetro de cerca de 5 km, que além do espaço urbano interiorizava solos muito férteis para abastecimento dos seus habitantes, os quais para além das muralhas se dedicaram com afinco na produção de fartas quantidades de cereais que exportavam na época da romanização, estabelecendo relações comerciais tão significativas com o Império que lhes permitiram manter a colónia convivente com os novos senhores da península, tendo-se mais tarde assistido à preservação dos templos enquanto o forum romano foi destruído pelos conceitos religiosos da cristandade. 






 



A austeridade e unicidade do pensamento religioso da cristandade, em templos para comunidades com menos meios para erguer e sustentar a ostentação, confere-lhes uma sobriedade muitas vezes apenas quebrada no seu interior pelos sinais de uma prática de generosas oferendas, em que aquilo mais difícil de aceder aos crentes, porque materialmente valoroso, deve ser o tributo a pagar pelo alcance de promessas julgadas satisfeitas pelo Divino, ou por antecipação na expectativa de ver satisfeitos desejos mais ou menos consentâneos com as escrituras doutrinais, isto é, o ouro nas mais diversas representações. Nas grandes Catedrais Italianas que julgo dever destacar por se implantarem no berço da cristandade e refletirem portanto o poder do seu Patriarcado, para além da grandiosidade na construção e decoração templar que em Roma teve o seu momento exponencial em S.Pedro através do uso, e abuso, dos materiais pétreos mais nobres vindos do saque aos templos e palácios da “civilização” acabada de ser esmagada pelo radicalismo, e da constatação que ali, no cerimonial, a regra tem sido durante séculos a ostentação paramental, julgo podermos encontrar e refletir sobre outro tipo de “encontro” em alguns locais onde há sinais de uma influência das épocas anteriores sobre a nova religiosidade que, a pouco e pouco foi ganhando expressões próprias de um discutível materialismo dialético.
Desconhecem-se as circunstâncias em que os templos de Paestum se foram descolorando, e as modernas técnicas de investigação apontam para a reconstituição demonstrada na imagem seguinte, o que revela não apenas o que devem ter sido os ambientes diáfanos dos templos gregos, mas também como as tradições mais antigas contaminaram muitos interiores de templos cristãos medievos cuja policromia brilhante e aberta só os estudos dos finais do século XX foram também destapando.
 
 
 


Após o abandono da cidade, ela ficou escondida entre bosques e pântanos, e ter-se-ão perdido as memórias da sua localização, e só foi redescoberta em meados do século XVIII.





 




 

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