Realizou-se no fim da semana passada em Nápoles o 19º Festival Internacional de Cinema sobre Arte Contemporânea. Nas artes plásticas, há plataformas em que o desrespeito se foi ampliando, e correndo o risco de alguém poder vir a dizer que quanto à substância o enredo é um “caso patológico”, mesmo assim foi bom poder encontrar pelo mundo mais ou menos suburbano uma evidência Portuguesa em cartazes de rua, ainda que imperceptível ao comum dos mortais. No cartaz, que promovia largamente as sessões do Festival, saltava à vista um objecto, que de “arte contemporânea” tem apenas a convicção de alguns e a tolerância de muitos, centrado numa representação de autor, notável pelo equilíbrio plástico na postura de um lagarto, enroupado em crochet. A escolha deste lagarto, um original do ceramista BORDALO PINHEIRO, decorre do facto de uma tal “artista contemporânea” Portuguesa ter decidido aproveitá-lo para o tornar suporte de uma das suas obras de “arte”, e fazer parte do festival a apresentação de um filme de 52 minutos, com o título JOANA VASCONCELOS TIME MACHINE, da autoria de Miguel Braga e Gonçalo Roquete, que versava sobre a realização de uma exposição na Manchester Art Gallery, sendo que no folheto em distribuição nos pontos culturais da Cidade estava escrito - “ A artista transforma objectos de uso quotidiano em esculturas e instalações”. Não sei que faria Bordalo, que tão bem ironizava nos jornais e revistas da sua época com a ponta do seu aparo molhado em tinta da china e os seus pinceis aguarelando, sobre os novos poderes fáticos que transformam uma caritura numa obra de arte, mas acho que nem o Portuguesismo do relevo dado ao lagarto brilhando esverdeado por entre as malhas do crochet das rendeiras que alimentam a âmbulância de suporte básico de vida desta artista, o calaria.
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