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segunda-feira, outubro 24, 2011

Eco dos criadores do Belo


Quando a época da “exclusividade” das Agências de Viagens parece fazer parte já das nossas memórias mais distantes, e hoje em dia, bastando pressionar uma tecla várias vezes é possível, encontrar informações sobre o caminho para o lugar mais insólito do Mundo e comprar todos os bilhetes que permitam lá chegar, podemos imaginar algum do prazer e desafio que nos fins do Século XIX devia constituir fazer preparativos para uma viagem, com apenas a escrita servindo para o intercâmbio entre os pedidos de informações, as respostas e as reservas definitivas, quiçá sempre interrogadas.
Quando encontrei um sugestivo postal enviado por António Conceição e Silva a um Pintor seu grande Amigo, estavam lá escondidas algumas histórias indecifráveis, mas também um estímulo para que eu tentasse perceber em que condições Conceição e Silva teria ido parar à Finisterra, um cantinho da França, bem como outros pintores Portugueses de Lisboa, e até do Porto, para além de ser conhecido que o Estado, e alguns beneméritos apreciadores de arte atribuíam então bolsas de estudo em França, considerada o “coração” da Arte na Europa. Achei ainda interessante saber se o Hotel e a pintura ainda existiam, e caso afirmativo se seria possível obter algumas imagens.
E pensei também para comigo, se quem sabe Conceição e Silva para pagar a estadia não terá efectuado a pintura mural retratada neste seu postal, cujos personagens, estão identificados pelo seu punho – Ezequiel Pereira, Eduardo Moura, José Rafael e o próprio, auto-retratado.

“Pont-Croix et plus généralemenl le Cap a toujours beaucoup inspiré les peintres. Il en est venu de célèbres tels que Matisse en 1895, Désiré Lucas, Max Jacob, Emile Simon.. Tous ces artistes étaient très bien accueillis au Cap. La propriétaire de l’Hôtel des Voyageurs, à Pont-Croix, qui était Mme Gloaguen dans les années 30 jouait un peu le même rôle que " Marie Poupée " à Pont-Aven. De nombreux artistes et artisans ont choisi de vivre à PONT-CROIX (peintres, sculpteurs, potier, artisan du cuir...). Sans compter les nombreux peintres amateurs et professionnels qui y trouvent maintes inspirations pour leurs toiles.”

Há por vezes encontros que se transformam em desencontros, mas há também acasos que criam curiosidades e que logo nos enchem de muitas respostas; e foi este o caso, pois a eficiência e gentileza do Office de Tourisme de Pont-Croix partilhou um conjunto de informações sobre um trabalho de investigação sobre a verdadeira autoria da pintura mural do Hotel des Voyageurs e sobre as personagens ali retratadas, realizado em 2006 por um Cidadão Português residente em França, e este gentilmente enviou-me um CD recheado com os resultados do seu trabalho de investigação histórica.



Durante muitos anos, a autoria da pintura mural do Hotel des Voyageurs foi sendo atribuída a um tal Abel Cardoso, versão que não parecia poder acomodar-se com outros dados recolhidos pelo nosso compatriota, e assim este deu início a um profundo trabalho de recolha de documentação e de contacto com o maior número possível de descendentes do falso autor e de Conceição Silva, e com todas as fontes locais enquadráveis. Agora, este postal pode colocar uma pedra final sobre a controvérsia, já que é de todo improvável que ainda em 1953 Conceição e Silva para escrever a uma Amigo usasse um exemplar de um postal que retratasse uma pintura de outro pintor, apenas porque ele ali estava representado. Seja como for, a presença de Pintores Portugueses na Bretanha poderá não ser um tema ainda totalmente encerrado, pois gerou outras oportunidades de partilha de informação com o “Musée de Beaux Arts” em Quimper, e permitiu a troca de conhecimentos entre dois Portugueses espalhados pela Europa e com empenho na procura de contributos para alguns dos seus prazeres mentais.

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