Um dos conceitos mais primários da humanidade, a Troca, é hoje uma equação complicada que se compõe de dois distintos e acentuados parâmetros, a venda e a compra, ambos alapados com siglas sonantes e com sonoridade intencionalmente agradável para esconderem a substância das suas respectivas cargas fiscais. Ao longo da vida, não troquei apenas o automóvel já gasto por outro mais recente, fazendo entrar o valor pecuniário do velho na conta final; outros objectos foram sendo sucessivamente trocados por mim na mesma forma matemática, isto é, procurando encontrar quem melhor valorizasse o objecto usado para diminuir os encargos com a compra do novo. E sei, que estas práticas já exisitiam nos tempos dos meus Avós e dos meus Pais, porque o ouvi contar, embora não as possa detalhar e quantificar porque para aí não era então chamado, mas lembro-me bem de algumas trocas de mobiliário dos meus Pais e dos meus Avós. Eram no entanto para a minha Família talvez não, outros tempos, os que se seguiram ao derrube da primeira República e aos vividos durante e depois da segunda Guerra na Europa, mas períodos de dificuldades do País, que sempre se foram e se vão repetindo cíclicamente.
Cabe aqui, uma história que a minha Mulher me contou sobre a “despedida” de um Tio, dos seus Primos, dos seus Irmãos e dela, a um amigo e companheiro de muitas caminhadas por caminhos de terra, mais ou menos batida. Tinha-se tornado inevitável trocar o Cara Alegre, um cavalo para todo o serviço, pelo primeiro automóvel daquela Família. O adjectivo moderno para justificar a razão principal daquela Troca, é o economicismo, pois o cavalo tinha custos de manutenção progressivamente incomportáveis, e o automóvel acrescentava à poupança um maior raio de acção e uma menor duração nas viagens. Mas, aspectos houve de natureza humana que não tinham preço, e que penalizaram não só o Cara Alegre, como todos os antigos donos, pois sempre que se cruzaram depois da sua venda, o cavalo lutava contra a condução do novo dono para se dirigir aos antigos amigos para os “cumprimentar” com alegria estampada na cara, o que deixava muito zangado o seu proprietário. Da minha parte, tive a sorte de não me ter voltado a cruzar com as coisas de que me desfiz obrigado, e que me deixaram mesmo saudades.
Se tenho a sorte de ainda ter comigo a sedutora caixinha que conheci como a máquina fotográfica do meu Avô Materno, e que tantas vezes me desafiou para a compreender, não deixa de ser um pequeno mistério a razão pela qual esse meu Avô deixou de fotografar, embora encontre alguma justificação na sua vida austera, que sempre acompanhei de perto enquanto ele viveu, pois compartilhámos a mesma casa. Aquela velha máquina, aqui está agora em imagem digital, para poder mostrar alguns detalhes da sua vida para as fotografias, e talvez não tenha sido trocada por outra mais moderna, por inexistência então dos mecanismos da sociedade de consumo, que hoje tudo promove e procura ávidamente poder financiar.
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