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terça-feira, novembro 15, 2011

Relações entre o Portugal de hoje e o Calcolítico

Acaba de ser notícia a quantificação (?) pelo Governo do valor de uma das nossas reservas auríferas, no caso a de uma jazida no Distrito de Évora. Assinado o contrato de exploração, concretiza-se mais um negócio de receitas extraordinárias para reduzir o chamado défice, e iludir o cidadão comum, sendo certo que a dívida soberana nunca ficará resolvida a não ser que se descubra o caminho marítimo para trazer de volta os milhões de milhões de impostos não cobrados pela fuga de capitais para as plataformas financeiras que flutuam nos “paraísos fiscais” espalhados pelo Mundo.
Quem ande por aqui há mais tempo, lembrar-se-á da imagem que publiquei de uma peça em ouro que faz parte do chamado Tesouro do MNA, o qual, até agora, ainda está a passar despercebido à onda expropriadora dos liberais/jesuítas, e o “rastreio pidesco” do Relvas aos Blogues, ainda também não o terão denunciado à Troika. A tal peça, que é uma representação dos denominados braçais de arqueiro, um dos artefactos arqueológicos que podemos considerar como semi-mudos, pois se por um lado supostamente se destinou a amortecer o impacto do retorno da corda do arco de lançamento de flechas, protegendo assim os dedos da mão que sustinha o arco pelo meio, não conseguimos que nos diga que territórios percorreu, que caçador protegeu nem que animais ajudou a abater.


Embora existam representações que provam esta explicação, as marcas de impacto das cordas também são visíveis numa análise macroscópica da superfície destas protecções, elaboradas recorrendo sempre a rochas o mais duras e leves tanto quanto possível. No mobiliário funerário dos caçadores pré-históricos do Calcolítico, para simplificar, encontra-se quase sempre a panóplia dos utênsílios não perecíveis usados na caça - as pontas de projectíl, as pontas de alabarda, os machados em pedra e “adereços” como, os braçais pétreos de arqueiro, os colares e os botões em osso. Nalguns contextos, estão também presentes representações metálicas destes artefactos, para além dos adornos que diferenciavam o estatuto hieráquico de cada indivíduo, e que relevam a importância que os mesmos tiveram na vida dos povos pré-históricos e no imaginário das suas práticas “religiosas”.Nalguns santuários do campaniforme, estes complexos complementos funerários, podem mesmo ter acompanhado as alterações ocorridas nesses monumentos com a necessidade de espaço para novas deposições ao terem-se criado recantos de ossários, mas inseparados do “mobiliário” material que acompanhou os mortos na primeira deposição.
No meu conceito do “Tesouro” que o MNA encerra, o sufixo ouro não ocupa nenhum lugar cimeiro, pois só o resultado de algumas criações artísticas dos metalurgistas do calcolítico pode ganhar direito a ombrear, por exemplo, com a plasticidade da representação da chamada Deusa Mãe, tenha ela sido registada num suporte de mármore, de barro cozido, ou de xisto. Mas, ao falar de simbolismos não deixa de ser obrigatório referir a carga simbólica que tem a jazida mineira que vai ser explorada cerca de Montemor o Novo devido à sua proximidade com vários santuários do Calcolítico e com o ídolo representado na imagem seguinte.

Ídolo placa de forma antropomorfa, em pedra, proveniente de Montemor o Novo




Ídolos placa de forma antropomorfa e ídolo em forma de báculo, todos em xisto

Ídolo oculado em mármore – Museu de Sines

Por tudo isto, Portugal vale a pena, e mesmo que nos continuem a extorquir as reservas de ouro, os nossos antepassados de há cinco milénios deixaram-nos ricos de uma história que poucos conseguem igualar, que não nos pode ser retirada, e da qual temos a obrigação de extrair urgentemente rentabilidade através de uma empenhada divulgação Mundial, que promova a necessidade de a viram conhecer aos seus próprios “santuários”.

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