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quinta-feira, julho 14, 2011

A pesca do polvo em Tavira

Hoje, depois da praia, passei pelas barracas dos pescadores de Santa Luzia para continuar a minha aprendizagem sobre as artes da pesca. Durante cerca de uma hora, estive a observar o Sr João Romeira preparando as boias bandeira para a pesca do polvo, apetrechos indispensáveis para a sinalização do local de largada das armadilhas, e que estão sujeitas a multas por parte da Polícia Marítima caso não sejam cumpridos todos os requesitos legais. 

A PM patrulha a costa de noite, com a sua vedeta de vigilância, fotografa as boias e caso não estejam conformes, envia a multa para casa do mestre do barco; nada mais simples, e com a informação das coordenadas da localização registadas por GPS, instrumento também utilizado pelos pescadores para não errarem o local onde largam as armadilhas para atrair os polvos e poderem proceder outro dia ao esprender das teias sem perda de tempo. Noutros tempos, a referência eram as casas costeiras, os cerros e a distância da costa, tudo medido com o olho da experiência, e sem as limitações das 6 milhas de hoje, que alguns arriscam não cumprir, pois o mar é imenso, e o rastreio da vigilância é limitado a algumas áreas de cada vez. Nas armadilhas de rede de plástico e estrutura metálica, os polvos se entrarem, já não conseguem sair, enquanto que nos velhos alcatruzes de barro e nos modernos de plástico que lhes herdaram o substantivo, a abertura continua livre, mas os polvos sentem-se protegidos dos ataques dos seus predadores marinhos e por isso podem ser içados para os barcos sem que haja perigo de se perder a captura. Cada bandeira, fica ligada a uma teia de entre quinhentas e mil armadilhas.

Para fazer uma boia bandeira, é preciso em primeiro lugar, um pau forte com um peso fixo numa das pontas, que pode ser em argamassa de cimento ou um tijolo atado com cordas. Depois fixa-se a boia de perfil paralelepipédico feita com esferovite, mais ou menos próximo da ponta quanto determina a sensibilidade experiente do artesão para a sua futura estabilidade na água, e finalmente na extremidade livre a bandeira é atada em Portugal, e agrafada pelos Espanhois. A boia, a cuja construção assisti, ficou composta por três pedaços de esferovite, tendo o pescador/artesão rasgado um sulco na peça central para fixar o pau, e procedido a uma amarração que me lembrou a técnica de fazer atilhos de várias voltas em embrulhos pesados.

Na bandeira e nas quatro faces da boia, são pintados o número do registo da embarcação, as iniciais do nome do barco e a inicial da respectiva Capitania. As bandeiras são feitas com quadrados de plástico ou tecidos impermiáveis. Quando, no meio da conversa fiquei a saber o nome do barco a que se destinavam as bandeiras que assisti a preparar, realizei que já o tinha fotografado na doca seca e no cais de acostagem.
Descodificando as iniciais desta bandeira – T (Tavira) 62 (nº do barco) C (Capitania) ; S (Sãozinha) 62 M (Machado)


Cada barco que parte para a pesca do polvo, leva já preparadas e bem amarradas no prolongamento da amurada várias bóias bandeira, que mais parecem  lanças em posição ataque.


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