Ainda não sabemos, e talvez nunca o viremos a saber, como se processava a comunicação oral entre as populações do Sudoeste da Península desde o neolítico até cerca da era Cristã. Do ponto de vista conceptual, acredito que o nascimento do substantivo Monumento pode ter ocorrido no começo da criação dos grandes complexos funerários do neolítico final, que acolhiam os rituais da morte. Temos já conhecidos no nosso território, uma imensidão de importantes Monumentos Funerários com alguns Milénios de existência, que nos transportam para a necessidade de reflexões, discussões e decisões sobre as práticas de conservação de um Património Monumental incompreendido pela maioria dos Portugueses, com a sua protecção e investigação potencialmente agravadas em tempos de crise financeira. Muitos desses Monumentos são parcialmente mudos, não apenas por não serem capazes de nos alertar para a sua violação ou para pequenos maus tratos, mas também porque encerram conceitos e fundamentos difíceis de compreender. Não vejo diferença entre a salvaguarda da Torre de Belém e de um Menir, pois ambos estes Monumentos são parte assumida do Património, da “paisagem”, e da memória do País e da Humanidade há já centenas de anos, embora por agora só um deles tenha peso específico/financeiro avaliado pelo número de bilhetes vendidos para o visitar. Mas, o futuro dos Portugueses depende entre outras coisas da alteração progressiva do paradigma cultural que o analfabetismo tardiamente erradicado retardou. Um dos principais ónus que um conjunto arqueológico que não caiba numa vitrine, carrega consigo, é a dificuldade de interpretação imediata, mesmo depois dos cientistas terem efectuado os trabalhos de base, e por isso surgiram modernamente alguns chamados centros de acolhimento e intrepretação, cuja sustentabilidade vai ser cada vez mais difícil, mas que são vitais para a descodificação, por exemplo, do expressionismo plástico dos seus criadores, que oscila entre o simbolismo mágico/religioso e a arte esquemática mais pura. Cada vez concordo mais com Pablo Picasso, quando ele dizia que “a inspiração existe, mas ela tem de nos encontrar a trabalhar”, e por isso os curadores e artífices do Património vão ter de superar as dificuldades que se adivinham, continuando a trabalhar devotadamente para que lhes toque a inspiração capaz de tornar cada vez mais apetecível a todos os públicos ir ao encontro dos resultado das suas investigações, para os poderem apreciar e compreender. Pertence à Pessoa certa e tem sede própria, a explicação das circunstâncias que rodearam a descoberta do Menir envolvido nesta imagem, que está felizmente “protegido” de agressões fáceis, mas quero a propósito confidenciar o meu sentimento, ou opinião, de que os artistas do neolítico, foram tocados pela mesma inspiração que agitava Picasso, e exprimiam-se utilizando o vocabulário mais simbólico encontrado na Natureza, como os círculos dos seios das Mulheres e os triângulos invertidos das suas vulvas. E se Picasso tem hoje, expostas e bem guardadas em Museus, tantas inspirações difíceis de entender, deslocadas dos ambientes em que foram imaginadas e produzidas, os “nossos” Monumentos Arqueológicos merecem pela mesma génese criativa ser igualmente bem conservados e observados por milhões de olhos, com a vantagem de muitos deles se terem mantido na atmosfera dos ateliers onde foram criados. Para isso, fica aqui um modesto contributo.
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