Ainda não consegui encontrar uma definição para cultura, que me satisfaça. Por vezes, associa-se cultura a saber, e este é uma marca identitária que evolui à medida que crescemos, e como jamais existirão duas histórias iguais, nem igualdades de oportunidade, Miguel Angelo e Einstein são dois saberes, ou sabores, de um comparável patamar de conhecimento, com tão grande sapiência como uma Mulher de Mértola que toda a sua vida trabalhou num tear e compôs padrões para mantas de qualidade inquestionável. Portanto, se definir Cultura já é por si difícil, mais complicado se tornará espalhar por todos os interiores do nosso País ricos em atrasos estruturais, o balanceamento do seu valôr na utopia de um máximo divisor comum que a torne menos abstracta, ainda por cima num tempo em que a Cultura deixou de ter Ministério, o que instintivamente a atira para último lugar das prioridades colectivas, não por razões de estratégia ou necessidade economicistas, mas sim em consequência da sua conveniente apropriação para o exercício do poder elitista. Pelo meio dos conflitos de interesse que dominam a luta pela redistribuição da riqueza, uns quantos disputam a oferta Turística de mais ou menos Qualidade, sem aceitarem a chamada visão integrada, a qual entende deverem-se distribuir o mais possível ao longo dos territórios com Logotipo, o maior número possível de polos de atracção para a exposição das suas valências culturais. Um território que pelas suas potencialidades se pretenda hoje promover, é porque o seu coração demonstra conservar no seu interior o resultado de todas as aculturações pré-históricas e históricas aportadas pelas civilizações, e quiçá também barbáries, que as ocuparam, e deixando para trás muitos contributos para o seu desenvolvimento, querem agora o retorno da sua criatividade através da sua publicitação, e esta pode fazer-se de muitas formas.
As modernas tecnologias, tão acarinhadas mas que vão destruindo milhões de empregos, colocam ao alcance de uma dedada (click) o acesso ao milagroso termo ligação (link) que pode destapar toda a informação residente na rede (web), maioritáriamente desprotegida. Embora a rede, e consequentemente os seus predadores, ainda não tenham tido tempo de se apropriar de toda a obra Humana secularmente impressa, ainda estão a salvo muitos direitos de autor que importa saber proteger da moderna pirataria semi analfabeta a qual, como desconhece entre outras coisas decisivas a existência da tabuada, também ignora o que é a ética. E entre a salvaguarda desses direitos, está a propriedade intelectual dos artistas da préhistória que se expressaram, em suportes naturais sujeitos a agressões climatéricas, geológicas e humanas, ou em suportes materiais mais duradoros mas mais frágeis ainda, e cuja descêndência Universal nunca conhecerá os benefícios pecuniários colectivos dos direitos da propriedade intelectual.
Quem queira aprofundar o enquadramento das origens da Taça retratada nesta imagem, que é uma réplica de uma criação do Século I ambas produzidas em Itália no mesmo local – Arezzo, está desafiado para uma visita ao Palácio da Ajuda onde reside a Bibioteca do ex Instituto Português de Arqueologia (IPA), e por exemplo ganhar algum tempo de vida com o saber de Francoise Mayet. Arezzo é mesmo um exemplo da Cultura que me toca, um Território, com milénios de história onde se partilham as emoções do recheio do Museu Arqueológico com os Frescos medievais de Frei Angélico nas suas Igrejas e ainda está ansioso por oferecer como recordação uma das notáveis réplicas da melhor palamenta cerâmica usada pelas elites Romanas, e que ali tiveram a sua origem.
Por mim, gostava agora de saber como terão reagido os artífices criadores da cerâmica Aretina, a um primórdio da “Globalização”, o nascimento de importantes centros de produção da Tierra Sigillata na Gália, na Bética e na orla mediterrânea do Norte de África que lhes copiou as ideias e o saber fazer, e com a destruição do monopólio das exportações Aretinas para o restante Império, conduziu à sua falência e ao seu ocaso.