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segunda-feira, maio 11, 2015

As Placas de Xisto Gravadas dos Sepulcros Colectivos de Aljezur




Para o comum dos mortais, as publicações “técnicas” destinam-se, em princípio, ao mundo dos especialistas, mas há muitos casos em que seguramente essa ideia está desajustada. Quando por mero acaso acedemos recentemente a uma publicação editada pela Câmara Municipal de Aljezur com o título “ As Placas de Xisto Gravadas dos Sepulcros Colectivos de Aljezur”, a imagem de capa é a primeira porta para a entrada fácil num dos mais interessantes temas da arqueologia Portuguesa já que atravessa os domínios do “sagrado”, e logo a seguir verifica-se ser a proposta de um caminho para a leitura do extenso e detalhado trabalho de descrição e análise sobre um conjunto muito homogéneo de achados. As placas de xisto, na esmagadora maioria dos casos, gravadas, encontradas em ambientes sepulcrais, fazem parte de uma das mais significativas e explendorosas criações em “território Português” durante o 3º milénio AC, já aqui com referências anteriores, http://alenteverde.blogspot.pt/search/label/Arqueologia?updated-max=2012-03-10T00:00:00Z&max-results=20&start=20&by-date=false , mas a que vale a pena voltar se mais não seja pela beleza da imagem de capa acima referida, mas também porque releva o enquadramento noticiário deste achado no século XIX e a sua inclusão na obra prima, Antiguidades Monumentais do Algarve da autoria de Sebastião Philippes Martins Estácio da Veiga, um Tavirense muito ilustre.
As Placas, não são acolhidas no universo dos objectos ou artefactos “mudos”, pois o Projecto Placa Nostra ( que cuida do inventário das placas de xisto encontradas em território Português criado por Victor S. Gonçalves), tratou de colocar como prioritário criar um glossário que em última análise procura enquadrar cada placa em grupos a partir da sua decoração, indo ainda ao ponto de procurar “determinar” para cada peça as sucessivas etapas decorativas por que passou, descodificando portanto um imaginário manual técnico para que cada pedaço de xisto afeiçoado possa encerrar qualificações para ser classificado e consequentemente ter direito a cumprir a sua função, facto este já mais difícil de definir, embora como o título do livro acima citado indica, o seu importante destino era fazer parte dos cultos do imaginário mortuário. Embora a imagem seja redutora, a capa do livro sobre o conjunto de Algezur atribuído a meados do 3º milénio AC destapa a beleza da decoração das placas e releva uma certa uniformidade na disposição dos motivos na face. Claro que depois de ficarmos com o conhecimento total deste conjunto de placas, inúmeras interrogações aparecem sobre cada uma, como por exemplo, a potencial “virgindade” dos orifícios (verificada em macro observação) o que parece sugerir uma deposição desgarrada do morto que lhe estaria associado. Numa época em que a hierarquização social se começava a solidificar, e os enterramentos colectivos iam dar lugar a sepulturas individuais, as placas seriam marcadores sociais, sexuais, ou profissionais? No conjunto de Aljezur em que a esmagadora maioria dos verso é liso, uma delas tem um gravado um conjunto de “motivos” que sugerem uma deliberada associação ao mar; um peixe estilizado e um recticulado que parece poder atribuir-se à figuração de uma rede.
Nada melhor do que procurar pelo livro ( junto da Câmara local), e dar o primeiro passo na entrada para o mundo fascinante dos objectos rituais “genuínamente” criados pelos “nossos” antepassados que habitaram o Sudoeste desde o Barlavento Algarvio até ao Alto Alentejo.

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