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terça-feira, dezembro 20, 2011

A intimidade com a Ria num encontro com a Arqueologia


Tinha hoje como objectivo reencontrar um enquadramento que registei fortuitamente em 1980 num passeio à descoberta da margem norte da Ria Formosa para ocidente de Pedras d’El Rei.


Já não voltei a encontrar o mesmo plano de observação de 1980, mas o que resta das ruínas dos tanques de salga que devem ter feito parte das estruturas industriais da cidade de Balsa estratégicamente situadas junto à margem da Ria onde se situariam os cais que permitiam o rápido escoamento da produção do garum embalado em ânforas de cerâmica, ainda resistem às intempéries, graças à solidez das argamassas com que os blocos de pedra foram agregados pelo saber inconfundível dos construtores Romanos.

Quanto à densa vegetação que contrasta com a aridez de 1980, fiquei a saber que isso se deve ao progressivo abandono da utilização dos inúmeros poços, alguns da época romana, o que faz com que para a Ria confluam durante todo o ano, mesmo nos verões mais secos milhões de litros de água das abundantes nascentes que ali existem, e que também deve ter sido factor determinante para a escolha daquele local como sede para a ocupação de Sotavento pelo Império de Roma, em desfavor das condições oferecidas por Tavira que tinha sido um importantíssimo burgo da ocupação Turdetana desde o Sec. VI AC.
Os tempos de agora já são o que sabemos, a cultura e o património já foram classificadas como “lixo” pela loja de rating Liberal/Jesuíta PSD/PP, o futuro de um País já de si aculturado vai tornar-se numa ruína pública da riqueza muito privada. Independentemente da noção espacial que tinha e tenho do enquadramento global do caminho que me tinham indicado e hoje percorri a pé para ir abordar a Ria Formosa mais cara a cara, jamais poderia imaginar que um dia num escondido “caminho público” eu podia passar por cima de um mosaico Romano, e quiçá desagregar alguma das suas tesselas.






Por isso, de olhos no horizonte tacteei o caminho ingreme com os pés, e só de regresso um encontro com um velho morador da zona que também lhe apeteceu aproveitar a tarde para espraiar a vista e a respiração pela pureza ambiental da reserva natural, me deu a conhecer como se esvai o património da cidade romana de Balsa, chamando-me a atenção para o que existia no caminho por onde tinha passado uma hora atrás.





O que resta de Balsa, a mais importante cidade Romana do Sul de Portugal, estará meio soterrado entre as parcelas arborizadas, as poucas terras de cultivo e as casas de férias de dezenas de proprietários, e portanto jamais poderemos usufruir das suas potencialidades como fonte de informações históricas e de promoção turística e cultural, ocorrência tão característica da visão estreita das nossas autoridades camarárias. Os tapetes de mosaico, maioritariamente bicolores, que decoravam muitos compartimentos das Villae, mesmo que reduzidos à sua expressão geométrica mais simples, caso não possam ser devidamente consolidados para serem vistos, como acontece noutras partes do País e do Mundo,




deviam merecer uma vigilância permanente para que possam, pelo menos, ser conservados debaixo das camadas terrosas onde têm conseguido sobreviver protegidos das pequenas "intempéries".   

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