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sexta-feira, fevereiro 24, 2012


Poema das coisas belas

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivo serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas porque será belo o pôr do Sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando coisas percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?


António Gedeão, in Poemas Póstumos, 1983

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