temos saudades das manhãs frias de outono,
em que ao chegar lá depois de umas dezenas de kilómetros de carro,
e mais umas centenas de metros de caminho a pé,
levantavam à nossa frente bandos de perdizes e de abetardas,
os coelhos e as lebres corriam a refugiarem-se nas tocas junto ao barranco,
e depois,
entre as sombras das Romanas e dos Romanos,
ficava o silêncio da música dos campos serenos,
onde era possível, a céu aberto, trocar beijos na boca,
longe dos olhares reprovativos das “bruxas” da Aldeia.
E, quando voltàvamos com os “cacos”,
dizia-se que tínhamos ido “às pedras”!
Em 1988, ainda era assim, um campo lavrado cheio de "cacos",
em que numa pequena área a maioria deles,
“reclamava” por ser salvo das grades de disco,
e a informação que continham exigia isso mesmo.
Mas, estas “saudades” não se matam,
não porque apenas quase não há "cacos saudáveis”,
mas pela mesma razão de que,
não se matam saudades dos pirolitos
através de uma velha garrafa original
comprada numa casa de velharias.
Assinalado um fragmento de lucerna à flôr do campo em 2012
Pode-se revisitar o Coliseu, e encontrar um exposição,
sobre Gladiadores com o patrocínio da Nike,
e absorver um novo enredo para os seus corredores exteriores,
criando novas “saudades” daquele monumento,
podemos até ir a um Museu “matar saudades” de uma pintura de Amadeo,
mas não é possível recriar as emoções do primeiro beijo,
ou da primeira ponta de seta em xisto descoberta em S.Brás,
à superfície do esporão onde ali se “situa” o povoado do calcolítico.
Poderemos(?) ir revisitar à beira do Ardila a Quinta da Esperança,
e até quem sabe voltar a encontrar no meio dos torrões,
uma enxó em anfibolite,
mas não é possível “matar saudades” do ambiente,
de acolhimento à lareira dos seus antigos Caseiros,
aos quais pelo Natal levávamos um Bolo Rei já frio,
depois de mais de uma hora de percurso a pé,
através de um antigo caminho escorregadio e lamacento.
Apesar de tudo, as saudades podem mesmo ser “mortas”, ou “apagadas”,
e o objecto do nosso desejo ser melhor passar para a “gaveta” dos "esquecidos"
a tomar forma de algo que nos possa criar uma certa repulsa,e até quem sabe voltar a encontrar no meio dos torrões,
uma enxó em anfibolite,
mas não é possível “matar saudades” do ambiente,
de acolhimento à lareira dos seus antigos Caseiros,
aos quais pelo Natal levávamos um Bolo Rei já frio,
depois de mais de uma hora de percurso a pé,
através de um antigo caminho escorregadio e lamacento.
Apesar de tudo, as saudades podem mesmo ser “mortas”, ou “apagadas”,
e o objecto do nosso desejo ser melhor passar para a “gaveta” dos "esquecidos"
e com isso perturbar a beleza de muitos dos nossos sonhos.
Não que o mesmo objecto não possa despertar saudades a outras pessoas,
que não o conheceram no mesmo estádio que nós,
e que talvez possam ir resolvendo com agrado as suas próprias saudades.
Se na ilusão de recordar os sabores,
dos “BIFES” da Portugália e dos “CACHORROS” da Ribadouro,
se voltarmos lá com esse propósito,
a memória encarregar-se-ia de matar a saudade dos longínquos paladares,
ao mesmo tempo que dezenas de outras pessoas estarão a provar os novos sabores,
com as características da actualidade.
E o mesmo, podemos dizer da natureza, e dos campos que conhecemos,
como é o caso dos horizontes de Baleizão,
em que as alterações nas culturas, “vítimas” das modas e escravas dos subsídios,
transformaram a paleta de cores daquela vastíssima manta de retalhos.
Comparar imagens analógicas de 1988 e digitais de 2012,
presumídamente na abertura dos mesmos horizontes,
não era tarefa fácil, e podia ferir algumas sensibilidades,
mas, era aqui e agora obrigatório, e por isso a opção é uma comparação sugestiva mais alargada, recorrendo à magia do Earth.
O “tempo”, a tal entidade imaterial, está cada vez mais exigente,
e estão a fugir-nos alguns segundos em cada minuto que passa.
Não sabemos se voltaremos à “Cidade das rosas”,
e por isso, não fazemos promessas de vir aqui “matar saudades”,
das Saudades que teremos sempre dos seus torrões.
Mas, voltaremos mais vezes para falar dos “cacos”.
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