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quinta-feira, maio 05, 2011

Segredos de uma viagem de comboio

As viagens constantes dos comboios que levam até à praia do Barril, turistas sonolentos, velhas e velhos com pernas cansadas, jovens Pais com seus filhos pequenos, agitam diariamente os carris por onde deslizam, e comprometem a pouco e pouco a sua estabilidade, se a sua infraestrutura não for devidamente vigiada e conservada. As águas da chuva, os estremeções dos pequenos abalos de terra e até alguns túneis de formigas..., abrem também brechas entre as solipas de madeira assentes no socalco macio de areia, compactada pelos anos, e que suporta o peso do comboio e dos seus passageiros.
As águas invernais, e o calor tórrido do Verão, afectam também a estabilidade das solipas de madeira que de anos a anos têm de ser substituídas. O Sr. Francisco, antigo empregado da CP, conduz os passos mais importantes da manutenção desta via férrea de 60 cm de largo entre os carris, com um ajudante por sinal Cubano, de nome Reidel. Substituir as travessas de madeira passa por várias fases, e é uma tarefa para especialistas, pois para além da força de braços necessária para rodar a grande chave de cruzeta indispensável para fazer o desaperto e aperto dos parafusos que prendem os carris às solipas de madeira, parafusos estes a que lhe chamam de tirifones, é necessário o saber de garantir o alinhamento dos carris e a distância entre eles.
Antes de tudo, é preciso fazer com que as solipas cheguem à outra margem da Ria pelos intervalos das passagens dos turistas, transportadas duas a duas em carrinhos de mão, até preencher a tara de uma vagoneta que puxada pela locomotiva as vai distribuindo ao longo da linha. 
Para concretizar as tarefas principais, usam primeiro uma gueja com a medida dos tais 60 cm, colocada interiormente, 
e a seguir colocam um grampo que é fixado exteriormente segurando a distância entre os carris enquanto os tirifones são fixados às solipas com a grande cruzeta que rodada à mão pela força dos dois homens, segurando um de cada lado em movimentos ritmados de meio círculo, para que progressivamente mesmo as roscas já gastas dos tirifones perfurem a madeira e aconcheguem a base do carril à travessa já muito esburacada de outras vidas noutras linhas de maior porte.

Por fim, é lançada e compactada mais areia por entre os carris para garantir durante mais algum tempo que as viagens têm sempre um final feliz.Esta é uma das raras situações em que podemos ficar satisfeitos com o reaproveitamento de materiais ditos usados e tantas vezes acabando nas lixeiras, pois a modernização das linhas de longo curso da CP dispensam as largas travessas de madeira que são agora por aqui encurtadas e ganham uma nova vida e utilidade social.Mas, nem tudo é feito à força de braço como em tempos não muito distantes, pois já não é necessário abrir os primeiros buracos com enormes verrumas, trados de cruzeta de seu nome, porque hoje um pequeno gerador a gasóleo, ajuda um berbequim com uma broca de 18 mm a desenhar um orifício na madeira para facilitar a entrada dos tirifones.
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