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sexta-feira, maio 13, 2011

A intimidade com as objectivas


Quando, frequentemente regresso da praia pela “caminho dos barcos”, o pequeno estaleiro naval de Santa Luzia oferece sempre um novo mural de arte dita abstracta, que me obriga a mover para um lado e para outro à sua volta, tentando decifrar a sua linguagem diária, sempre muito diversificada e criativa.


Tudo pode despertar mecanismos de apropriação mental das coordenadas das infinitas imagens que se podem escrever e compôr com os reflexos abstractos da luminosidade própria de cada segundo de cada dia.




Apesar de não poder influir nas côres que tenho pela frente, e às vezes só fotografo a preto e branco, mesmo assim posso potenciar ou diluir algumas cores com a ajuda dos botões que me permitem enganar o fotómetro, entidade que foi criada para ser ao mesmo tempo a mais sensível mas também a mais implacável e infalível, e “confundindo” eu uns parâmetros com outros, o chip inteligente, não se apercebe que materializo novas visões do mesmo rectângulo que um dos olhos espreita no visor, e o outro observa sem espartilho.


Quanto mais abstractas são as formas puras e primitivas que tenho pela frente, mais livre fico para registar a ressonância da sua sensibilidade, tendo sempre em conta o respeito pelo silêncio de todos os ângulos.




O mais difícil, é sempre o domínio das linhas paralelas, entrecortadas pelos círculos concêntricos dos nós das madeiras e pelos pingos planificados da tinta mal espalhada com pinceis baratos, ou que secou ao ar livre mais depressa do que era desejado.



A transferência para uma imagem digital, destas energias acumuladas nos materiais pela força das ondas do mar, produz uma colecção de arte espiritual que não é justo manter totalmente privada, e as escolhas que faço para a apresentação destas semi-abstrações resultam do regresso à realidade do formalismo.




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