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domingo, março 04, 2012

O Museu Geológico

Algures escondido em Lisboa, existe um Museu multidisciplinar que encerra as melhores colecções de Palentologia e Mineralogia do País, e um dos mais homogéneos conjuntos de Arqueologia da região do Vale do Tejo. A exposição extende-se ao longo de três salas, duas delas num conceito e metodologias expositivas à primeira vista antiquadas, mas que se revelam ilimitadamente amigáveis para uma observação e uma consulta tão aproximada quanto possível aos objectos e às suas legendas, ainda por cima com uma belíssima iluminação seminatural, apenas oferecendo constrangimentos nas imagens fotográficas às quais é difícil retirar os efeitos dos reflexos. É um Sítio, daqueles com S, inserido na parte velha da Cidade cheia de pequenas travessas plenas de mutiplicidade de arquitecturas e plenas de história com é o caso da sua proximidade ao edifício onde nasceu o Marquês de Pombal e no qual sempre se editou e compôs o Jornal “O Século”, até ao seu fatal desparecimento por falta de meios financeiros.  


Uma das suas mais recentes iniciativas do Museu, foi a criação de um conceito de valorização do seu acervo, consubstanciado na selecção das suas “primeiras 27 maravilhas”.

APRESENTAÇÃO
Quando já tanto se falou das maravilhas do Mundo e de Portugal, julgamos oportuno
trazer a público outro tipo de "maravilhas" que, se bem que mais pequenas, não são
menos importantes.
Considerámos que, face à excepcional riqueza das colecções exibidas, os exemplares
mais notáveis possam passar despercebidos ao público não-especialista, pelo que agora
pretendemos chamar a atenção para algumas peças excepcionais. A tarefa não foi fácil,
pois a dificuldade esteve em escolher 27 por entre tantas "maravilhas".
Nesta primeira escolha, esperando que outras se seguirão, seleccionámos algumas peças
notáveis das Colecções de Paleontologia, de Arqueologia Pré-Histórica e de Mineralogia.
A sua importância resulta do seu valor científico mas também, muitas vezes, do estético.
São testemunhos excepcionais da história do nosso território e dos animais e plantas que
aqui viveram ao longo de milhões de anos, bem como da presença dos nossos antepassados.
No entanto, uma das coisas mais importantes que os visitantes devem ficar a saber, é que
foi graças ao trabalho e persistência de sucessivas gerações de investigadores e técnicos
duma Instituição, que começou há mais de 150 anos, que hoje existe este Museu com
as suas vastas e preciosas colecções científicas, únicas no País e que, no seu conjunto,
constituem uma verdadeira Maravilha do nosso Património Nacional ao serviço de todos nós.
Que esta iniciativa possa contribuir para sensibilizar a população para a importância do
Museu Geológico é o que sinceramente esperamos.
Miguel Magalhães Ramalho
 
Esta ferramenta comunicacional não pode, e muito menos pretende, substituir um Museu, e por isso quero que este pequeno texto, sirva para quem o venha a ler encontrar com a maior brevidade a motivação para definir a melhor forma de poder ir visitar o Museu Geológico. Na àrea que mais me respeita, deixarei por aqui algumas imagens de algumas das 27 maravilhas, para aperitivo no que à arqueologia diz respeito, “legendadas” com a numeração que o Museu lhes atribuiu e com os textos do próprio Museu.


21 - Vaso em forma de suíno - Um "bibelot" neolítico que não passou de moda
Este curioso vaso em barro é proveniente das Grutas do Carvalhal de Alcobaça e data do Neolítico final (5000 a.C}. Deste género é o melhor conservado que se encontrou em Portugal, não havendo certeza do fim a que se destinava.



23 - Objectos da jazida da praia da Samarra (Sintra) - Úteis em vida, companheiros na morte.
Notável conjunto de objectos em osso, proveniente desta jazida do Calcolítico (2.800 a 2.600 a.Cv) correspondente a um monumento funerário, parcialmente desmantelado pela erosão da arriba, da qual, naquela altura, o mar estava bem mais afastado.
São diversos e delicadamente trabalhados estes objectos: contas, botões, ídolo com forma humana, alfinete de cabeça, punhal, etc.
Igualmente interessantes são as peças em calcário que foram ali encontradas como "ídolos" cilindricos e enchó encabada, todos eles acompanhando o esqueleto do seu antigo dono.


18 - Báculo e enxó do monumento megalítico de Estria - A homenagem aos mortos de um passado longíquo
O dólmen de Estria (Belas) foi descoberto e escavado no final do sec. XIX por Cartas Ribeiro, um dos fundadores da Geologia e da Arqueologia portuguesas.
Estas magníficas peças do Neolítico, correspondem, provavelmente, a objectos votivos colocados num enterramento, entre 3500 a 3000 anos aC.
A enxó é feita de calcário e o báculo em xisto decorado por desenhos geométricos relativamente toscos. Este último objecto, demasiadamente frágil para ser utilizado em vida, deve corresponder à distinção de alguém com importância.


19 - Colar do Poço Velho - Testemunho modesto da vaidade humana
As grutas do Poço Velho (Cascais) são um dos locais arqueológicos mais importantes do país, tendo revelado ocupação desde o Paleolítico Superior até à Idade Moderna. Foram usadas como local de enterramento entre o Neolítico Final e a Idade do Bronze, altura donde provém a
parte mais importante do seu espólio.
O colar (reconstruído) é atribuído ao Neolítico (4000 anos) e apresenta contas de minerais verdes, xisto, calcário e conchas, dispostas por uma ordem que não correspondia à inicial, a qual se ignora.

A imagem mais acima não corresponde ao colar em exposição no MG, pois as condições de iluminação não permitem um registo claro.Em compensação mostro uma das imagens publicadas no livro cuja capa antecede, e que é trabalho delicioso para ler e ver, com cerca de seiscentas páginas, sobre uma das sedes mais relevantes de ocupação no terceiro milénio no Concelho de Cascais.

20 - Vaso da Furninha - Um caso de "mão de artista"
Belíssimo e quase completo vaso de cerâmica, para ser colocado suspenso, foi encontrado nos níveis do Neolítico antigo, da Gruta da Furninha (Peniche). Esta célebre jazida foi escavada por Nery Delgado, em trabalho que foi pioneiro na Arqueologia por ter sido feito com métodos estratigráficos. Este vaso foi moldado à mão, sendo a pasta de barro grosseira e mal cozida.
Este Museu, oferece uma possibilidade inigualável a quem o visita de poder observar todo o seu espólio disponível, com uma simplicidade notável, e ainda “sem rede”, apresentando com humildade alguns dos materiais “mudos”, e que embora possam continuar ou não como tal, não deixam de se expor e poderem fazer-se comparar a outros com as mesma características.


Nota – Estas “esferas” (a da imagem terá cerca de 8 cm de diâmetro), comuns a todos os povomentos do neolítico final e do calcolítico, apresentam normalmente na sua superfície inúmeros sinais de fortes micro-impactos, admitindo-se no caso das de reduzidas dimensões (3 a 4 cm) que poderão ter servido como projécteis arremessáveis com o auxílio de fundas.

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