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sábado, março 07, 2015

Un voyage à Genève

Não há critérios formatados para definição de Viagem, e a sua importância é cada um que a atribui, os seus relatos ficam mais ou menos perto da realidade ou da ilusão, conforme a cor da caneta e a caligrafia usada para imprimir histórias e imagens guardadas enquanto houver memória para transpor as lembranças para as páginas dos “cadernos de viagem”. E podemos tentar começar a contar a vivência das histórias pelo fim, ou pelo princípio, tanto faz, já que a Viagem é uma unidade orgânica, em que quando a realizamos ficamos dependentes do que nos “deixam” mesmo poder ver sobre o que existe afinal na paisagem, e só mais tarde acabamos por imaginar os sons do que não estava por lá audível.
Quem viver, já tenha feito uma Viagem, faz outra, e ainda tem sonhos, esperanças ou ilusões criativas em Viagens transpostas para a irrealidade no futuro, resume com alguns numerais os minutos e as horas vividas entre ambientes inseguros e ventos de viés desconhecidos, e a ilusão de que não há descontinuidade nos espaços percorridos provoca sentimentos desencontrados pelas etapas percorridas desde que primeiro se imaginam os enquadramentos dos lugares a visitar, depois se constrói um plano logístico, para se concluir que é preciso saber devorar cada bolinha de ar que nos contacta com a boca, com as narinas e com os olhos.
Se no Universo não há práticamente duas “coisas” iguais, mas um átomo de oxigénio deve ser igual a outro átomo de oxigénio, em duas viagens anuais para um destino comum não é possível criar ambientes que sequer se aproximem; o clima, as renovações nos ambientes humanos urbanos, edificados e expositivos são a grande mais valia para que a mente também se renove e o espírito aberto (onde quer que ele se esconda) se entusiasme, com os desafios para preencher os espaços no desconhecimento, e no cuidado com o arquivo celular de tudo o que não ficou para contar mas para manipular. Esta viagem, entre a “obrigação” e a devoção, marcada de novo pelos choques de culturas que desnudam as boas e as más diferenças entre nós e os outros, transforma-se numa história ficcionada, ao contrário de outras mais velhas e bem imaginadas, não vai soluçar para além das lágrimas escondidas dos duplos abraços da chegada, dos encontros e da partida, mas rir com as cócegas nas pontas dos dedos.
Em tempos em que há “gente” a determinar que a cultura material herdada dos antepassados deve ser vigiada ideológicamente, e caso se revele atentatória dos princípios definidos por alguns Profectas(?) deve ser esfumada, é assintomático olhar critícamente para os critérios que nos ajudaram a crescer e determinaram o nascimento de muitos dos espaços onde nos sentimos bem, ou que mesmo ajudamos a edificar, seja de uma forma intimista no egoísmo do nosso próprio território individual, seja nos espaços comuns das comunidades em que estamos vivendo ou temporáriamente nos inserimos, e, é metódico que se use a interrogação para tentar atingir o direito em atribuir um significado real ao conceito de Museu que nos atrai, para que serve e quem serve ele afinal.
Agora que, com letra grande, um Museu deixou de ser conceptualmente um mono, e é cada vez mais um espaço para se aprender a viver, onde as virtualidades do conhecimento se esgotam a cada novo cenário com que as colecções se renovam, e ainda até se publicam, competindo o papel com todos os outros modernos suportes legítimos, porque permitidos, a actualidade criou em muitos Museus uma nova entidade curadora, os seus Amigos, que não apenas participam em suporte material e financeiro, mas satisfazem a sua divulgação de forma aberta e livre, e os rituais descritivos chamam-nos para sermos actores da mudança na mentalidade da intervenção museológica directa na sociedade.
Da Viagem faz sempre parte a fruição dos sabores das urbes e dos ambientes museológicos modernos quer se exprimam, entre paredes de antigos suportes arquitectónicos sobreviventes dos cataclismos naturais ou humanos e que hoje não servem apenas para preservar a espécie mas também para minorar o desperdício, ou nos interiores de belas e modernas arquitecturas que acolhem acervos doados pela colectividade, ou recolhidos pelo saber e pela perseverança de um coleccionador. Desta vez, no que respeita às colecções privadas, encontrámos uma exposição com um catálogo todo “aberto” apresentando parte das esculturas expostas, no caso vinte, fotografadas sob a orientação do Poeta Marcelin Mboko acompanhando cada uma com um texto interpretativo da sua autoria. O sentimento contraditório sobre o desmerecimento de uma peça arqueológica “mudar” de lugar, veio mais uma vez ao de cima, já que embora existam diferentes conjuntos homogéneos de artefactos idiotécnicos geográficamente “situados” com precisão em diversos áreas na Europa, não é possível desligar cada uma dessas culturas de uma competência estética mais vasta, e sentiríamos orgulho se daquela colecção constasse um dos ídolos esquemáticos em calcário do “Calcolítico Português”. 



 

Mas também a própria Cidade se converteu num Museu de ar livre, convidando anualmente escultores para realizarem obras que durante doze meses se espalham e preenchem um vasto conjunto de locais, e que de tantos, tornaram a visita global incomportável no nosso tempo disponível.




 

Cada vez temos mais a noção dos avanços na estruturação das Cidades modernas que racionalizam a vivência dos seus habitantes e dos seus visitantes, em que até a publicidade estática é parte fundamental dos contributos para a qualidade de vida, a cultura e a economia.

 
 
 
 

Do encanto dos ambientes gelados da beira do lago, por sorte foi possível conjugar o calendário e dar um salto de teleférico até ao Salève, ensaiando um primeiro contacto com os ”fotogramas” que enquadram os contrastes entre o branco puro dos cristais de água, o arvoredo maioritário de folha caduca, e o azul do firmamento, restando a certeza de que de tão breve encontro resultou a vontade de voltar, e também que do conjunto das imagens é difícil eleger umas e ignorar as restantes.

 



 

Vira-se a última página desta viagem com uma confessada frustração perante uma orientadora e apelativa tabuleta numa rua deserta, que afinal também não tinha correspondência ao longo de todas as praças, ruas e avenidas que percorremos.
 
 
De facto, na língua local, não as encontrámos!
 
 
 

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