Despojada de religiosidade, a filosofia sobre o sentido da vida, é prisioneira da dúvida legítima sobre o “criador” e a sua incompreensível imperfeição. Os hábitos primários de encontrar uma obra perfeita provinda do criador mais não são do que a incapacidade para perceber a origem do Universo, e a tentação de respeitosamente considerar este na sua brutal dimensão uma “Obra” notável. Quando se aborda a filosofia da vida, fazemo-la sobre uma perspectiva metafísica subordinada à equação que a nossa capacidade é incapaz de deduzir, embora quando se chega à conclusão de que afinal, estamos perante um complexo sistema equacional preenchido por variáveis estranhas e decifráveis apenas em sonhos, já não é possível voltar atrás, e começam a percorrer-se trilhos em que nos encontramos sósinhos abandonados à dureza cortante dos ventos do deserto. Depois, os exercícios mentais conduzem-nos à leitura retroactiva da lógica de todas as incoerências do passado, e abrimos as páginas em branco de onde o tempo já apagou as memórias mais absurdas, restando os caracteres das cartilhas mater e as notas de rodapé escritas sobre partes iguais de ar rarefeito, já amarfanhadas pelo peso das bibliotecas que foram entalando todos os intervalos deixados vazios, depois de todas as partilhas que as memórias herdadas obrigaram a destruir.
Todas as imagens são irrepetíveis, mas algumas ultrapassam mesmo os domínios da realidade e confrontam-nos com a crueza da velocidade da rotação da Terra que é capaz de refazer percursos e viajar até 1975 focando a nossa atenção na vida do Moínho do Saraiva à beira da Ribeira do Chança, que ainda faz a fronteira entre Portugal e Espanha, desde Vila Verde de Ficalho até ao Pomarão.
Sem comentários:
Enviar um comentário