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sexta-feira, outubro 11, 2013

A última tarde do Verão de calendário


Todos os infinitos têm um fim, e não há sabedoria que nos explique porquê. As sombras, por mais rectilíneas que sejam, duram um instante imensurável, e a quase finita leveza de uma gota de espuma desfaz-se sem que a consigamos salvar da sua teimosa mudança de estado.

Não posso deixar que o Verão fuja sem um último compromisso, e no fim da última tarde de um verão sem etiqueta numérica que ateste o nascimento da Terra, o ribombar da bandeira amarela não é a companhia certa para um sol ainda abrasador, que prateia as vagas espraiadas, nem para as imagens que se seguem.




Sem poder arrefecer o corpo, apostar em esperar pelo pôr do Sol para aquecer os filtros da inspiração, só será alcançável pela teimosia dos determinados, pois sem amparo de mãos férreas para contrariar a força da corrente que a cada vaga afasta mais areia da beira da praia, resta aos espíritos vestidos de curiosidade, assistir à luta entre o instinto do apetite dos peixes pelos iscos traiçoeiros, e a força contrária do vento suão, que dobram as canas de pesca.






Mas o Sol, por mais que os minutos passem, parece não se compadecer com a ansiedade da Lumix em o vir a namorar já alaranjado, enquanto os voos rasantes das gaivotas que caçam no meio da amena tempestade, criam feixes de vapôr que hão-de tornar-se nuvens de cores outonais, perturbando os reflexos dos seios das ninfas cor de rosa que começam a caminhar para poente, e regressam rápido por causa dos sussurros da areia molhada pelos rolos de vento que o fim da tarde recolhe em caixas prateadas, que deviam servir para guardar as recordações dos navegadores perdidos em filas de trânsito nas veredas empedradas que conduziam os burros até à Serra em busca de alfarrobas, e que afinal destroem o romantismo dos encontros secretos escondidos entre as estantes, com livros sobre as regras da beleza na nudez.





Um tronco galhado, molhado porque devolvido para terra, e caído na vertical, meio enterrado na areia, serve também para atrasar a descida do Sol que quase se despede de um dia capicua e par, e se alguém ou o mar não o arrastarem do seu implante, haverá um lugar certo para o tornar funcional até que algum bicho o consiga descobrir e o mastigar, para encher balões com pós de perlim-pim-pum.
 





A teimosia em ficar ao abandono dos segundos irrepetíveis, termina com a sirene inesperada da Lumix a avisar que lhe havia esgotado as forças e a paciência, e com isso abandono a espera pelos registos mais frios, e entrego a contemplação da fuga dos astro a quem seja capaz de subir ao Monte Figo, pois é agora por detrás dele que afinal se poderá visitar o escurecer, e apenas me resta ficar ainda a escrever sobre o amor ao mar.








 

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