Quando nos anos 70, o dia começava e metíamos ombros aos trabalhos de prospecção e lavantamento arqueológico do Complexo de S.Brás, era preciso levantar cedo para minorar os efeitos do aconchego solar do Alentejo, e pelo caminho não tínhamos só a companhia das perdizes que se levantavam à nossa frente, dos coelhos que fugiam para as tocas, dos assobios dos melros, e do cantar dos perdigões, mas também a alegria das cantorias e conversas das crianças que habitavam pela Serra de Serpa.Na estrada para o Pulo do Lôbo, quando o dia desponta já não se encontram essas crianças de outrora, mal nutridas, caminhando sózinhas kilómetros a pé, contra ou favôr do vento, à chuva e ao sol, ansiando por chegarem à Escola Primária, onde as três rasgadas janelas mostravam que para o Sul havia um infinito de promessas, embora o seu futuro ainda que sombrio viesse a depender de um passador, que mais tarde ou mais cedo, a salto, as levasse com os Pais para o Centro da Europa. E o edifício, que hoje ainda ostenta um imponente mastro para hastear a bandeira Nacional, tinha um pequeno alpendre, instalações sanitárias, lareira para aquecer a sala de aula, e anexo um avantajado e coberto poço de água de nascente, cuja bomba manual de tiragem já lá não está faz muitos anos.Depois de desactivada a Escola, o edifício, como tantos outros pelo País fora, a ninguém aproveitou, degradando-se tornou-se palco de grafiteiros rascas.Com a água daquele poço ainda lavámos a cara e as mãos vezes sem conta, primeiro tirando a água com um velho caldeirão de folha, e mais tarde quando alguém o subtraiu, continuamos a lavar-nos com a ajuda de uma garrafa de plástico atada a uma corda, de que apenas podemos aproveitar metade da água, pois a restante é precisa para o lastro que permite voltar a enchê-la atirando-a de novo para dentro do poço.
Descodificando a placa de mármore – Ministério das Obras Públicas – Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais 1960/1
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