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sábado, fevereiro 15, 2014

Associação dos Arqueólogos Portugueses







Embora a exposição tenha terminado, deixo a respectiva ficha técnica que permite ficar a conhecer a importância da Associação dos Arqueólogos Portugueses no panorama cultural de Portugal.



MEMORIA E INTERVENÇAO 

150 ANOS 

DA ASSOCIAÇAO DOS ARQUEOLOGOS PORTUGUESES
Biblioteca Nacional de Portugal
20 Nov. 2013 - 31 Jan. 2014 

O objectivo desta exposição é documentar a história da mais antiga instituição dedicada ao património cultural português e do seu museu, no ano em que aquela completa 150 anos de existência.
Ao longo deste século e meio de existência, a AAP foi evoluindo, de forma a corresponder às mudanças ocorridas neste período de grandes transformações económicas, sociais e políticas, em que o país passou da Monarquia Constitucional à República, sofreu a Ditadura Nacional e o Estado Novo, participou no movimento libertador do 25 de Abril, aderiu à Comunidade Europeia, e luta agora para manter a sua independência e o regime democrático.
Em meados do século XIX, numa altura em que o património histórico, artístico e arqueológico do país se encontrava num desolador estado de abandono, após décadas de instabilidade, provocada pela Guerra Peninsular e pela Guerra Civil que se seguiu, esta Associação, fundada por Possidónio da Silva com o objectivo inicial de lutar pela afirmação da profissão, cedo se transformou na primeira associação de defesa do património do país, conseguindo mobilizar o apoio da Casa Real e das personalidades mais destacadas do regime liberal para a salvaguarda do património cultural em risco, num altura em que o Estado não dispunha ainda de nenhuma estrutura capaz de o acautelar. Nessa fase, uma das suas mais importantes contribuições para a causa pública, foi a elaboração das primeiras listas de monumentos a proteger e a classificar como Monumentos Nacionais, e o salvamento de importantes obras de arte em risco de destruição, constituindo com elas o que é hoje o mais antigo museu de história arte e arqueologia do país, instalado num monumento de elevado valor histórico, artístico e simbólico, as Ruínas da antiga Igreja do Carmo, que resgatou de uma utilização indigna, como estrumeira da então Guarda Municipal.
Com o advento da I República, a AAP perdeu, é certo, o título de "Real" que lhe havia sido concedido pelo Rei D. Luiz, mas ganhou prestígio suficiente para congregar um grupo de arquitectos, arqueólogos, historiadores de arte, e outros cidadãos como Rosendo Carvalheira, José Pessanha, Adães Bermudes, Gustavo de Matos Sequeira, José Queiroz e dezenas de outros, espalhados pelo país, através dos quais foi definida e posta em prática pela República uma política coerente de defesa e valorização do património da nação, através das Comissões dos Monumentos.
O golpe militar do 28 de Maio de 1926, a criação da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais em 1929, e a instauração do Estado Novo, em 1933, afastaram a AAP do processo decisório referente à gestão dos monumentos do país, que passou a ser efectuada pela GEMN, e remeteram-na para funções de investigação e de consultoria arqueológica e histórica e de comemoração de efemérides passadas.
Com a chamada "Primavera Marcelista", a AAP começou a acordar para a vida, depois de um longo período de letargia, sob a dinâmica introduzida pelo Prof. Fernando de Almeida, que conseguiu congregar na sua pessoa o controle das principais instituições arqueológicas do país, abrindo as portas da Universidade, do Museu Nacional de Arqueologia e da própria AAP às novas gerações de arqueólogos.
A revolução do 25 de Abril e a restauração do regime democrático trouxe de novo a AAP para o centro da actividade arqueológica, tornando-a num local de debate dos problemas do sector, e de apresentação dos resultados das investigações arqueológicas que começaram a proliferar por todo o país, em Jornadas, Colóquios e em sessões normais de trabalho das suas secções especializadas, sendo publicados com regularidade.
A liderança da luta pela defesa do complexo de Arte Rupestre do Côa, através dos seus membros mais activos, em 1994, valeu-lhe alguns ataques por parte dos defensores da barragem, mas também reforçou o seu antigo prestígio e espírito de militância, que utilizou, logo no ano seguinte, em defesa da sua própria sede, o edifício histórico do Carmo, ameaçado pela construção de novas linhas do Metropolitano de Lisboa, conseguindo, com o apoio da opinião pública, que fossem tomadas pelas entidades responsáveis todas as medidas necessárias à preservação e consolidação daquele monumento nacional, e à remontagem do Museu nele instalado desde 1864.
Nas últimas duas décadas a AAP tem prosseguido com firmeza e independência a sua missão de promotora da investigação arqueológica e da defesa, valorização e divulgação do património do país, através do diálogo com as entidades oficiais responsáveis pela sua gestão, da organização de reuniões científicas para apresentação dos resultados de investigações em curso, da realização de uma série de actividades destinadas a vários tipos de públicos, e da dinamização do Museu Arqueológico do Carmo (MAC), completamente renovado e reaberto ao público em 200I.
O MAC começou por ser, no século XIX, um "gabinete de curiosidades" e um mero depósito de obras de arte deslocadas do seu contexto e salvas de destruição, evoluindo lentamente, no dealbar do século XX, para um museu já com alguma preocupação didática, apresentando colecções muito diversificadas, num ambiente romântico e misterioso, até se tornar, no início do século XXI, após a conservação e restauro de todo o seu acervo e a completa remodelação do seu discurso museográfico, num dos mais apreciados e visitados museus da cidade de Lisboa.
Possuidor de uma colecção muito diversificada de obras de arte e arqueologia, abriu-se nos últimos três anos à criação contemporânea, procurando estabelecer um diálogo com as suas colecções históricas, e assim atrair novos públicos, e ganhar novas dinâmicas.
O MAC é assim o elemento polarizador da actividade da AAP, através do qual se estabelece a ligação entre a pequena comunidade arqueológica e a sociedade em que se insere. Isso tornou-se especialmente visível na recente instituição da Festa da Arqueologia, um evento que teve início em 2010, e que se tornou rapidamente num dos principais eventos que marcam o calendário arqueológico, devido à participação generosa de dezenas de outras instituições, e à forte adesão do público em geral.
O vasto programa de comemorações que se desenvolveu ao longo de todo o ano de 2013 culmina, assim, com a realização desta exposição e do I Congresso da AAP, ao qual foram entregues para publicação cerca de 150 comunicações e posters, da autoria de cerca de 250 arqueólogos de todo o país, procuram demonstrar a vitalidade da Arqueologia em Portugal e a capacidade de mobilização da AAP, e também alertar os poderes públicos e a população em geral para a importância e a relevância desta actividade científica e cultural, e o seu elevado valor identitário e potencial económico.
Lisboa, 20 de Novembro de 2013
José Morais Arnaud

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