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sábado, dezembro 14, 2013

Os moínhos de água, o economicismo e as dietas


Numa exposição muito recente de Desenho científico sobre a Ria Formosa, “reencontrei” lá a existência do Moinho de Marim, e depois na minha biblioteca também lá estava um livro de 1992, hoje esgotado, sobre os Moínhos de Maré da Ria Formosa, e à guardiã da mostra solicitei informações sobre a localização exacta de Marim e da forma de lá chegar, e perante as incertezas tive de procurar num posto de Turismo dados mais precisos, o que reflete o distanciamento entre a maioria dos Algarvios e o património cultural da sua Região.

 







Para os executores do programa alemão/liberal/jesuíta, a aplicar aos chamados Países do Sul (agora na Europa, como já tinha acontecido no Continente Americano), o desenvolvimento económico de Portugal tem apenas em vista colocar à disposição dos “mercados” a oportunidade de encontrarem em Portugal a satisfação para uma série de vantagens sócio-económicas, à custa da prática do desinvestimento público, da desalavancagem financeira, e como corolário a venda dos bens públicos.
Como demonstram inúmeras estatísticas elaboradas por entidades internacionais insuspeitas, e recorrentemente escondidas por detrás de distorcidos e encomendados “relatórios” da CE ou do FMI, as alterações estruturais ocorridas nos últimos quarenta anos, reproduziram níveis de acesso a bens e serviços que em muitos casos ficam acima do que existe em muitos Países da EU. É verdade que nalgumas regiões costeiras a “pressão” económico-turística desvalorizou as paisagens e criou ambientes urbanos difíceis de caracterizar, mas ainda que o País seja pequeno, ainda sobrevivem nichos de genuína traça Lusitana, a par com modernas estruturas culturais capazes de acolher o interesse pela realização de eventos destituídos ou não de traços de massificação, e as sequelas da ocupação alemã/liberal/jesuíta podem e devem fazer despertar novos conceitos de organização social que respondam aos direitos dos Lusitanos na salvaguarda, desenvolvimento e fruição do seu próprio património.
Só interessa estudar a destruição do passado, para construir um novo presente, e por isso, o património desaparecido irrecuperável, importa apenas para o registo da memória, e o sobrevivente, recuperável ou conservado deve fazer parte do enquadramento das novas estratégias de promoção de projectos que visem tornar o mercado interno parceiro da procura externa, mas em pé de igualdade, pois só assim se prepararão os agentes que no futuro sejam guardiões da sua própria história.
Para alguns historiadores, o Sudoeste Peninsular é um território de identidade própria, embora com fronteiras difusas, e numa visão mais actual importa cada vez mais alargar os contributos vizinhos para a sua afirmação como espaço onde existiu uma escrita própria infelizmente ainda indecifrada, onde a criatividade artística é muito marcada, e onde também após a revolução dos produtos secundários as dietas se foram consolidando ao redor das ervas aromáticas, dos cereais e dos paladares proporcionados pela criação animal baseada nos pastos e em outros alimentos naturais característicos desta vastíssima região.
A Dieta Mediterrânea, terá no Sudoeste da Península muitas visões modernistas, mas para a criação dos seus suportes de vida nunca negará a primazia das moengas, e estas repartiram-se pela sua devoção à água e ao vento, e se esta Dieta é agora reconhecida como merecedora de ser entregue ao Mundo numa embalagem emblemática, antes de ser património da humanidade, é acima de tudo património do Sudoeste Peninsular, e é neste contexto que deve ser enquadrada numa vasta rede de infraestruturas edificadas desde a pré-história.
A água, nas suas versões de correria para o mar pelo efeito das cotas positivas face ao nível do mar, ou de movimentos constantes de vai vem junto à costa marítima pelo efeito Lunar, foi um auxiliar precioso para a primeira fase de retirada da produção comercial cerealífera da órbita artesanal, iniciada pelos Romanos. No Sudoeste Lusitano, da herança desse aparelho produtivo resta muito património edificado nas correntes de água doce, mas já quase nada na orla marítima do Algarve, decerto que por efeito do contágio da massificação urbanística.
Ao longo da EN125, existem várias tabuletas apontando par a Ria Formosa, mas nenhuma indicação conducente ao encontro com os moínhos de maré. É verdade que eles quase todos se perderam (terão existido perto de meia centena), mas nem há atracção orientada ao mais simbólico e bem conservado, que faz parte do chamado Centro de Educação Ambiental de Marim, em Olhão, parte integrante do Parque Natural da Ria Formosa.
Voltamos ao princípio, para apreciar o folheto que ainda hoje é distribuído aos visitantes na Quinta de Marim, com o texto seguinte e o nº telefone ainda sem o indicativo 2!
 
 


O Centro de Educação Ambiental de Marim (CEAM) é uma área de 60 ha, que faz parte do Parque Natural da Ria Formosa (PNRF).
Nele encontra-se reunida uma amostra representativa dos valores naturais e culturais da Ria Formosa. Trata-se de uma estrutura vocacionada para a educação ambiental, oferecendo aos visitantes os seguintes serviços: 


Visitas ao CEAM
O trilho de descoberta da natureza tem uma extensão de cerca de 3 km e demora 2-3 horas a ser percorrido. Está balizado com postes de madeira marcados a vermelho e inclui pontos de paragem equipados com placas informativas.
Ao longo do trilho estão representados alguns dos ecossistemas da Ria Formosa: zonas de sapal, salinas, dunas, pinhal, charcos de água doce e agricultura tradicional. Entre as construções (recuperadas pelo PNRF) que poderá ver durante o trajecto, contam-se um moinho de maré, uma casa agrícola tradicional (e respectiva nora), a casa do poeta João Lúcio e ruínas arqueológicas da época romana. A casa João Lúcio foi transformada em ecoteca, um espaço vocacionado para educação ambiental, dotado de auditório, centro de documentação, laboratório, etc. Poderá também visitar um canil especializado no cão de água português. O percurso inclui ainda o Centro Interpretativo, um edifício equipado com áreas de exposição, aquários, maquetes, auditório, centro de documentação, meios audiovisuais e outros equipamentos e infraestruturas de apoio a actividades de educação ambienta!. Aí poderá também adquirir publicações e material de divulgação sobre o PNRF e conservação da natureza.
O trilho pode ser realizado com ou sem guia do PNRF. As visitas com guia estão sujeitas a marcação prévia e a dimensão dos grupos deverá estar compreendida entre 10 e 25 pessoas. 

Visitas na barca do atum
O PNRF recuperou uma barca de transporte de atum (a única do seu género no país), que pode ser utilizada para percursos na ria.
Os grupos deverão ter um máximo de 28 pessoas.

Estadias
O CEAM dispõe das seguintes acomodações:
- um centro de acolhimento com camaratas com capacidade para 30 pessoas, com balneário, cozinha e sala;
- um antigo posto da guarda fiscal, que funciona como vivenda unifamiliar, mobilada, com TV, com capacidade para 8 pessoas; existem ainda 2 quartos exteriores (com capacidade para 2 pessoas cada). 

Auditório 
Integrado no Centro Interpretativo do CEAM existe um auditório com capacidade para 254 pessoas e dotado de ar condicionado, audiovisuais (projectores de diapositivos e vídeo, retroprojectores), equipamento de som e cabines de tradução simultânea. 

Trabalho voluntário
O CEAM oferece a possibilidade de realizar trabalhos no âmbito da conservação da natureza: regas, arranque de plantas infestantes, manutenção dos aquários, do canil e do centro de recuperação de aves, recolha de lixo nas praias, orientação de visitas guiadas, etc.
Os voluntários têm direito a alojamento gratuito no. centro de acolhimento, oferecendo, em contrapartida, meio-dia de trabalho voluntário.
Outras actividades de educação ambiental Para lá do trilho de descoberta da natureza e dos percursos na barca do atum, o CEAM permite a realização de outras actividades ligadas à Ria Formosa e à conservação da natureza. Estas actividades destinam-se sobretudo a escolas e são acompanhadas por pessoal especializado. 

Horário de funcionamento do CEAM - Todos os dias, incluindo fins-de-semana e feriados, das 9:00 às 12:30 e das 14:00 às 17:00

 


Com o folheto na mão, lá fomos ao encontro da margem da Ria para depois fazermos a aproximação ao Moínho de Marim, que se descortina difuso a coberto da vegetação do Parque.
 
 
 


Do ponto de vista estrutural, as construções na beira da Ria Formosa, em comparação com os moínhos do Guadiana e seus afluentes, parecem ter sido possíveis de executar com menos conflito com a adversidade representada pela água, já que não só a área edificada é muito maior, e as agressões do mar sendo muito menos violentas do que a brutalidade das correntes do rio, tornaram dispensáveis as espessas abóbodas e os pilares para as suportar que no Guadiana têm que fazer face à imersão total e parcial das estruturas por dias prolongados. Para além da simplicidade das quatro paredes, sem necessidade de contrafortes, com um telhado mais simples, a amplitude do espaço simplificava os processos de trabalho com a circulação fácil no interior dos moínhos de maré e também com um conceito mais prático e funcional nas tarefas de movimento das mós na sua picagem corrente e na sua renovação. Os moínhos de maré, estavam integrados num complexo habitacional, ao contrário dos moínhos das margens dos rios que apenas tinham uma função industrial sendo a habitação dos moleiros situada invariávelmente nas margens em cotas protegidas do leito de cheia.
 
 



Os interiores, eram sempre mais largos nos moínhos de maré, e olhando para o Moínho de D.Isabel o mais comprido do Guadiana (e mesmo assim o conjunto resulta da junção de três estruturas independentes, que foram sendo edificadas para acréscimo da capacidade produtiva) e para o de Marim na Ria Formosa, com o primeiro armado também com as 6 moengas as diferenças são evidentes.

 
 



 
 

Nos moínhos de maré, a dependência da água satisfazia-se em permanência através de um reservatório situado no tardoz do moínho, chamado caldeira, que enchia de forma natural pela subida maré através de uma comporta basculante, e era depois esvaziado através das sétias, provocando então o movimento rotativo dos roletes, cujo eixo accionava as mós.
 
 




 
 
No Centro, a barca do atum adoeceu de causas (des)humanas junto do ponto F (Boca cava-terra) também este degradado, com as travessas de madeira apodrecidas e já sem parapeitos, e são dois dos inúmeros exemplos de como as agressões economicistas dos alemães/liberais/jesuítas transformam a capacidade pública instalada para expansão cultural em apetecíveis exercícios privatizadores. Assim, o retorno do investimento tempestivamente efectuado com os impostos cobrados aos Portugueses, e destinado a favor das futuras gerações, vai ser a pouco e pouco desviado para gaúdio de apenas seleccionadas elites transnacionais.
 
 

 
 
 
 





 
 
 
Para complemento de algumas imagens, segue-se a informação oficial sobre o Parque Natural da Ria Formosa, que para além do seu conteúdo informativo, é também uma proposta de reflexão.
 
 
 


O Parque Natural da Ria Formosa foi criado pelo Decreto -Lei n0373/87, de 9 de Dezembro, posteriormente regulamentado pelo Decreto-Lei de 9 de Dezembro, posteriormente regulamentado pelo Decreto Regulamentar nº2/91, de 24 de Janeiro. Estende-se ao longo de 60 km da costa sotavento do Algarve, entre o Ancão e a Manta Rota, e ocupa cerca de 18.400 ha, distribuídos pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Stº António.
A maior parte desta área corresponde ao sistema lagunar da Ria Formosa, um cordão de ilhas e penínsulas arenosas que se estende mais ou menos paralelamente à costa, protegendo uma laguna onde se desenvolve um labirinto de sapais, canais, zonas de vasa e ilhotes.
Estas características naturais e a sua situação geográfica elegeram-na como área de grande importância do ponto de vista da avifauna, sobretudo a aquática. Nesta qualidade foi classificada como zona húmida de interesse internacional pela Convenção de Ramsar por:
* Constituir zona de invernada de aves provenientes do norte e centro da Europa, com destaque para algumas espécies de anatídeos (principalmente na zona do Ludo), como a piadeira (Anas penelope), o pato trombeteiro (Anas clypeata), o marrequinho comum (Anascrecca) e o zarro comum (Aythya ferina), e limícolas, como o pilrito comum (Calidris alpina), o fuselo (imosa laponica), o maçarico real (Numenius arquata) e a tarambola cinzenta (Pluvialis squatarola);
* Constituir zona de passagem para as migrações entre o norte da Europa e a África;
* Abrigar espécies raras em Portugal, caso do caimão comum ou galinha sultana (Porphyrio porphyrio), que tem aqui o único local de reprodução confirmado no país e foi escolhida para símbolo do PNRF.
* Possibilitar a nidificação a espécies cujos habitats têm vindo a regredir.
O interesse do PNRF não se esgota na avifauna:
* Constitui uma área de grande interesse botânico, sobretudo pela vegetação das zonas de duna e sapal;
* A laguna funciona como "viveiro" de espécies marinhas, algumas delas de valor comercial, como a dourada (Sparus aurata), o robalo (Dicentrarchus labrax), o sargo (Diplodus sargus) e o camarão de Quarteira (Penaeus kerathurus);
* É uma importante área de produção de moluscos bivalves, com mais de 1000 ha de viveiros de amêijoas, que representam cerca de 80% das exportações do país neste domínio.
Reconhecendo a importância nacional e internacional dos valores existentes nesta área, o Estado Português promoveu a sua classificação como Parque Natural. A necessidade de compatibilizar a protecção do património natural e cultural e um desenvolvimento socio-económico sustentado, determina como objectivos principais:
* A protecção da flora, fauna e paisagem características do Parque;
* O apoio a actividades económicas tradicionais compatíveis com a utlização racional dos recursos naturais;
* O apoio a outras actividades compatíveis com a conservação da natureza;
* A promoção de actividades de recreio, lazer e turismo, tendo em conta as particularidades da área protegida e a sua capacidade de carga;
* A implementação de infraestruturas vocacionadas para a educação ambiental, de forma a sensibilizar a população residente e os visitantes para a necessidade de conservar os valores naturais e culturais;
Os principais problemas que afectam o PNRF são:
* A construção clandestina nas ilhas-barreira;
* A urbanização da orla costeira;
* O aterro de sapais e salinas com lixos e entulhos;
* A deposição anárquica de resíduos sólidos;
* A destruição da vegetação dunar por pisoteio e
* A erosão do cordão dunar,
* A descarga (na laguna, no oceano, e na bacia hidrográfica da Ria Formosa) de efluentes domésticos sem tratamento, ou com tratamento insuficiente;
* A poluição difusa com origem na agricultura intensiva e campos de golfe;
* A alteração do coberto vegetal para fins agrícolas, urbanos ou industriais;
* O assoreamento da laguna;
* O excesso de pesca e o recursos a artes ilegais;
* A caça furtiva (nomeadamente a caça com armadilhas) ;
* A descaracterização da arquitectura tradicional;
* A degradação do património histórico-arqueológico;
* O abandono da exploração tradicional das salinas.
Dentro dos limites do parque são proibidas todas as actividades que prejudiquem significativamente o ambiente. Estão, assim, sujeitas a licenciamento do Parque as seguintes actividades:
* Alterações de topografia e uso do solo;
* Instalação de linhas aéreas eléctricas ou telefónicas;
* Construção, reconstrução ou ampliação de edificações;
* Corte ou colheita de plantas (ou flores ou quaisquer outras partes de plantas) fora das áreas agrícolas ou florestais;
* Caça ou captura de espécies animais selvagens,
* Introdução de espécies exóticas de flora e fauna;
* Estabelecimento de novas actividades industriais, florestais, pecuárias, agrícolas, extractivas e desportivas;
* Instalação de estações de tratamento de esgotos.
No âmbito do Ano Europeu do Ambiente 1993, foi implementado o programa de Geminação de Áreas Protegidas Costeiras, que resulta, em parte, da Directiva 79/409/CEE sobre aves. Neste âmbito, o PNRF foi geminado com Domaine de Certes-Le teich, uma área protegida na costa sudoeste de França.
 
 
 (recordo, que clicando em cima da imagem esta se individualiza)



Regressando de novo ao princípio, sobre a Dieta, a nossa, a do Mediterrâneo, a proposta é a seguinte:
· Venham a Tavira,
· Visitem o Palácio da Galeria,
· Apreciem duas belíssimas exposições,
· Adoptem a Pirâmide da Dieta Mediterrânea.


















Voltaremos aqui para dar nota digital e escrita de como vai decorrendo o namoro com o Parque Natural da Ria Formosa.




 

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