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domingo, junho 23, 2013



Generalizar é imprudente, mas julgo que quase todos os Portugueses reconhecem uma certa incompatibilidade entre os Espanhóis e a língua Portuguesa, e também julgam que o contrário não é verdadeiro. Também devemos reconhecer que até tempos recentes, a dimensão da incapacidade económica para as Comunidades da Língua Portuguesa percorrerem o Mundo, geravam a ausência de traduções das línguas autóctones para além do Inglês e do Francês, o que parece estar mudando com a importância crescente de alguns Países agora apelidados de “emergentes”. Um dia destes, em Sevilha na recepção do antigo subsolo da Plaza de la Encarnación, agora espaço Musealizado, duas jovens espanholas, perguntaram-me pela nacionalidade tendo em vista a escolha da língua de um pequeno guia, donde resultou a entrega do mesmo me ter sido feita na versão Inglesa!




Dadas as desqualificações que os Portugueses têm vindo a ser alvo da parte da aliança entre as autoridades dos poderes económicos que gerem as Europas, e os Governantes Nacionais, não deixa de ser irónico que umas miúdas Espanholas considerem que a melhor forma de um Português já velho compreender uma exposição com a legendagem principal em Castelhamo, foi entregarem-lhe de moto próprio um texto em Inglês, atitude que não comentei na hora por só ter dado por isso já depois de ter deixado a exposição, e afinal qualquer das três versões disponíveis me era indiferente!



Durante anos e anos, na Sevilha que “fica aqui tão perto” e é uma das duas Cidades onde gostaria de habitar se não vivesse onde vivo, tinha observado repetidamente uma vasta Plaza primeiro entaipada e depois “esburacada” por profusas escavações arqueológicas, que vieram a revelar os vestígios de parte dos complexos habitacionais e comerciais de um período com cerca de 1.200 anos iniciado no Século I, e situados a uma profundidade de cerca de 5,5 metros do nível do solo actual, o que mais uma vez revelou a forma como as grandes Cidades foram crescendo, sobrepondo os sucessivos entulhos resultantes dos apagamentos ideológico/religiosos, cujos vestígios ficam sempre presentes e bem datados nos cortes estratigráficos. Estão agora à vista os pavimentos de instalações Romanas para o fabrico de garum, as villae adjacentes e até 350 m2 de uma casa árabe do período Almonda.

 



O plano de reaproveitamento da Plaza de la Encarnación incorporou os alicerces dos edifícios encontrados nas escavações, agora visitáveis num “pequeno” Museu, o ANTIQVARIVM DE SEVILHA residente por debaixo de um moderno Mercado, e este, foi por sua vez amplamente coberto por uma notável estrutura arquitectónica construída em madeira ao cimo da qual se pode aceder de elevador e disfrutar de uma vista panorâmica de 360º sobre a Cidade. A criação de espaços museológicos em subsolos de zonas urbanas modernas, tirando partido de importantes vestígios que a arqueologia descobre, estuda e depois ajuda a musealizar, é uma prática que felizmente se tem desenvolvido, preservando assim os monumentos mais antigos e com a ajuda da engenharia moderna aproveitando o espaço constrói-se em altura quase sem restrições.





Entre as particularidades da musealização, encontrei uma estratégia pouco habitual na apresentação da composição dos sedimentos encontrados no sector da indústria do garum com a representação corporal das espécies piscícolas usadas, as quais, atendendo à proximidade da nossa costa sul, também podemos encontrar e reconhecer nos nossos mercados, como o cantaril, o rodovalho, a baila, o robalo, o sargo, a sardinha, a anchova ou a cavala.




Quanto ao mais, quem possa deve visitar com calma todo o complexo, aproveitar a cultura nas suas vertentes históricas e a fruição interpretativa do percurso elevado sobre os horizontes da Cidade pleno de auxiliares, e finalmente explorar e apreciar os enquadramentos dos inúmeros recantos oferecidos pela obra arquitectónica.
 
 
 

 

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