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terça-feira, junho 21, 2011

RIA FORMOSA

Fui hoje de catamarã até à chamada Praia da Terra Estreita. 

Não pude deixar de recordar o fascínio dos “cacilheiros” que nos anos 60 nos levavam da estação Fluvial de Belém até à Trafaria, onde aí se apanhava a camioneta que nos transportava até à Praia da Costa da Caparica. Mesmo ao meio dos cacilheiros, havia um espaço fechado mas com janelas à altura da cabeça que deitavam para a chamada casa das máquinas e que deixavam passar, o barulho dos motores de muitos cavalos que faziam com que a quilha do barco rasgasse as correntes do Tejo já meias contaminadas com o sal do mar Atlântico, também o odor do gasóleo queimado, e o som agudo da sineta e um disco metálico giratório que descodificava as ordens do mestre do navio vindas da ponte de comando até junto ao maquinista. Mas aquelas janelas também nos ajudavam a passar o tempo da travessia, e nos deixavam observar os reflexos de todo o motor, que parecia ser limpo todas as manhãs com solarina, lembrando brilhantes tachos de cobre depois de areados, e os movimentos ritmados de cada um dos pistons pareciam-se com saltinhos de martelos em cordas de pianos de cauda. 

Hoje, fui confortávelmente sentado na amurada, com uma boia ao alcance da mão, com a lua ainda visível, sem balanços de ondas, sem cheiros de motor, e embora a uma velocidade bem menor, mas podendo apreciar muitos dos horizontes que a ria tem para oferecer, quer da natureza quer da pesca na ria e nos seus bancos de lodo, onde se escondem caranguejos e ameijoas perante o olhar das gaivotas que vigiam a ria a partir das boias de sinalização e o movimento dos barcos de pesca.



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