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segunda-feira, junho 20, 2011

Destapar o Estado do País com a mão da Arqueologia

Panorama para Noroeste do Castelo Velho de Alcoutim, fortificação Islâmica, ocupada até ao início do Sec. XII, e que controlava os movimentos comerciais numa significativa parte do Guadiana, ficando fronteiro a S.Lucar del Guadiana.




Fui convidado pelo Presidente da AAA - Algarve Archaelogical Association, para integrar um grupo de associados numa visita a vários sítios do Concelho de Alcoutim onde decorrem ou já se concluíram projectos de investigação arqueológica. Participaram 20 pessoas, 18 das quais Estrangeiros residentes no Algarve de várias nacionalidades. Fiz o percurso num carro acompanhado por dois Alemães, dois Holandeses e dois Franceses da Alsácea, e durante um dia vi-me confrontado com a visão que aqueles companheiros de viagem têm de Portugal, e fiquei chocado com a crueza de algumas reacções a começar logo pela revolta em proximamente pagarem portagens na Via do Infante, que segundo eles foi construída com Fundos Comunitários, pagos com os seus impostos!







Depois de durante alguns dos períodos das deslocações entre os sítios, e ainda ao almoço, ter escutado outras reacções de crítica ao sentimento de corrupção que grassa nos serviços públicos e não ter até compreendido alguns “Portugiesisch” desbafos em alemão, o passeio acabou com uma dupla cereja em cima do bolo. 
No fim da tarde, fomos visitar uma tholos, e a nossa cicerone de primeira água, a Arqueóloga responsável por todos os trabalhos desenvolvidos no Concelho, introduziu a visita com a explicação da forma como o monumento foi descoberto. Bem perto dali, tinha sido apresentado um projecto para plantação de um extenso pinhal, e a Câmara entendeu fazer anteceder a plantação de um levantamento de eventuais vestígios arqueológicos, pelo que a Arqueóloga entrevistou o dono do terreno acerca do eventual conhecimento que ele tivesse de vestígios que pudessem indiciar antigas ocupações humanas. Depois de uma longa conversa explicando o papel da arqueologia naquele processo de florestação e das vantagens coletivas do conhecimento que produz, o interluctor, um Homem simples do campo, disse-lhe que conhecia uma coisa que lhe ia interessar, mas que até nem ficava no seu terreno, e desabafou – “eu nunca tinha falado com uma arqueóloga, e sinceramente estava desconfiado, mas estou muito satisfeito pois o que me habituei foi a receber engenheiros do MA a exigirem-me dinheiro!”.




Ficavam assim confirmadas, de forma simples e expontânea, as acusações que fui escutando ao longo do dia sobre histórias e sentimentos que aqueles Estrangeiros exemplificaram sobre a podridão nos Tribunais e no aparelho de Estado do nosso País, e eu tinha ficado a conhecer com enorme detalhe um  invulgar Monumento Funerário de falsa cúpula, construído há cerca de três milénios mesmo ao meio da confluência de solos de xisto e de grauvaque sendo os esteios feitos desta pedra, a mais dura da região.

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