E

domingo, novembro 08, 2015

Picassomania







Os visitantes dos Museus de Paris com que nos cruzamos e a quem ouvimos o francês como língua de expressão, não serão de todo “invulgares”; apresentam-se muito bem vestidos mas não de forma arcaica, são maioritariamente da nossa idade, no fundo atrevo-me a classificá-los como de modernistas, tal como nós, porque em êxtase permanente. A calma observada aos visitantes não é apenas intrínseca, também resulta da ausência das “manadas” de olhos em bico “xaxuxaoxau…” que em outros tempos preenchiam as salas e os tlac,tlac,tlac ecoavam os tacões dos sapatos pelos velhos soalhos enrugados das salas de exposições parisienses, hoje tão modernizadas. Encontrámos pois uma nova sociedade, que absorve as sabedorias dos criativos e que para esquecer os bombardeamentos ao retardador dos jactos de guerra VW, procura refúgio nas grutas que guardam as sucessivas épocas de desenvolvimento artístico, atravessadas por passadeiras de pinceis que fragmentam as bactérias genéticas das correntes estéticas como biombos protectores da agressão natural de raios de luz sobre as células que assistem sentadas e mudas à performance da cadeia produtiva.

As mais diferentes técnicas utilizadas pelos artistas plásticos conduzem quase sempre à simples tradução das expressões realmente modernas queridas pelas populações humanas simples, embora tão prisioneiras da sustentabilidade analítica da arte particularmente concreta, visto que o adn conserva e afina o genoma geracional, e cada Mulher e cada Homem acaba por encontrar nele a raiz que afecta a capacidade de diferenciação. A adaptação ao meio ambiente vai-se moldando aos matizes das hemoglobinas que procuram no oxigénio circundante o meio de transporte para, alimentando-se se diferenciarem, e se bem que seja impossível hoje rejeitar as influências do que já nos passou diante dos nossos olhos carimbando ao de leve muitos neurónios com riscos e cores, que de vez em quando, por razões que só a falta de razão conhece, atonam ao centro de agitação celular e promovem a sabedoria de cada inventiva, como se de uma nova edição se trate. 

Afinal, produzem-se mutações, ou cada “invenção” não passa de adaptação às regras de mercado que regulam mesmo o acesso aos palcos onde dançam as balanças que pesam o valor intrínseco da obra de arte? 
Se calhar, cada obra não depende de balanços e balanças, mas é fortalecida pela capacidade de trabalho e pela produção da creatinina que pigmenta a epiderme das mãos, acrescentando-lhe energia para encontrar, não só a fórmula que melhor misture os colorantes, como também modele a agilidade que sustenta os lápis que dão forma à imaginação e aos equilibrismos naturais. 

Algumas obras até poderão ser “vítimas” de um distúrbio ocasional, como um dado de jogo que se lança para determinar a face que tem gravado o código de acesso, tal como um presente recebido do “criador” do universo, que determina o acesso à herança de princípios necessários à desconstrução das formas híbridas que praticam a actividade regular enviesada pelo caminho que conduz ao reembolso do conhecimento adquirido. O título da exposição “PicassoMania” reflecte acima de tudo a influência que toda a obra de Picasso foi tendo nos artistas plásticos em geral, de forma definitiva e mais determinante após o termo da II guerra Mundial, já que esta havia deixado gravadas profundas marcas eternas na expressão do pintor Espanhol.

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 






O conceito de obra de cariz “picassiano” foi a razão para as obras que integram uma exposição com tal temática, embora ela também esteja enriquecida com um enredo a quem se possa atribuir um aspecto lateral, mas que pela sua amplitude, ganha a dimensão própria da importância que Picasso e a sua obra tiveram na cinematografia dos anos sessenta, contaminando quase todos os grandes actores e até Woody Allen estava representado na apresentação multimédia que circula pela “caixa escura” tripartida, onde passam simultâneamente em três paredes as imagens “picassianas”. Esta “presença de Picasso” nos ambientes cinematográficos foi-nos, de facto, passando despercebida, seja porque o decor não intervinha tanto na cena como o poder da imagem e das palavras dos actores que nos obrigava a saltitar entre o esforço na tradução da língua original e o rodapé, onde as legendas resolviam todas as nossas hesitações, seja porque a Mensagem tinha ficado nos fotogramas cortados pela censura da época, que julgava méritos e deméritos dos argumentistas e dos realizadores, por incultura, preceitos e preconceito.




 
Esta presença, afinal tão vasta e profundada da obra de Pablo Picasso na cinematografia, embora “lateral”, comparo-a à ignorante descodificação, que creio comungar com milhares de concidadões do Mundo, e de que nos abstivemos nas entre imagens de um profundo realismo na obra de Hergé. De facto, nas aventuras de TimTim estão presentes mais de três dezenas de réplicas dos mais característicos automóveis que atravessaram quase todas gerações do século XX, e que vão merecer uma nota contextualizada longe dos territórios de Picasso.




Sem comentários:

Enviar um comentário