O actual espaço geográfico conhecido como Portugal, é um vasto território, desigual em inúmeros aspectos. Mas, no que a este espaço diz respeito, a generalidade das escolas estudaram-no com falta de seriedade durante vários séculos, pois restringiram as reflexões aos últimos oitocentos anos da Portugalidade, como se durante dezenas de milénios não tivesse sido profundamente habitado, e fosse importante perceber as nossas verdadeiras “raízes”. A desigualdade territorial acentuada durante os últimos três séculos, não é apenas fruto das condições geoestratégicas, mas mais das influências que as heranças muitas vezes não reconhecidas deixadas pelas vastas e diversificadas ocupações humanas que antecederam esse período.
O centralismo decisório, tão divergente como numeralista ou como humanista, preocupou-se acima de tudo objectivamente com a gestão dos grandes agregados populacionais e deixou que as sociedades agrárias se autogerissem, o que, de certa forma ajudou a acentuar a pureza de muitos horizontes que nos últimos dois lustres se foi esfumando, nuns casos pela capitalização da propriedade, e noutros por mortalidade das ocupações, evaporadas pela falta de descendência enraizada, pois aquela procurou outras paragens internas e externas para a sobrevivência. Quem habita hoje na Capital do País, e ache que deve procurar conhecer a paisagem e o património construído nas chamadas terras saloias, já não a consegue perceber pois o borbulhar imobiliário, aprovado ou clandestino, descaracterizou toda a região e por isso não apareceram tantos projectos de investigação suportados pelos Fundos Comunitários como tem vindo a acontecer no Sudoeste.
Depois dos trabalhos publicados, que nos servem agora de suporte à análise dos contextos sub-urbanos, alguns municípios do Sudoeste vêm promovendo a divulgação do seu património, convidando abertamente quem queira participar em eventos de aproximação à interpretação do seu território, podendo ser suficiente uma manhã para, através de uma visita bem guiada visitando dois ou três pequenos aglomerados rurais, criar um processo iniciático de conhecimento histórico e paisagístico, contribuindo para o enriquecimento pessoal, como aconteceu recentemente em Tavira, integrando o passeio, “ Os Montes da Serra de Tavira” no vasto programa internacional da Dieta Mediterrânea.
O Passeio, teve a orientação do investigador da Universidade do Algarve Arquitecto Miguel Reimão Costa que editou recentemente o livro “Casas e Montes da Serra entre as estremas do Alentejo e do Algarve”, centrou-se no Monte do Zimbral, e dessa visita sobraram umas poucas imagens, a lembrança de curtas conversas com alguns estoicos habitantes idosos, e a sugestão para continuar serra acima à descoberta de muitos horizontes escondidos no seu recorte.
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