Um espaço de transpiração, comunicação e partilha de sensações na apropriação de planos do Planeta que nos acolhe. Como objectivo principal, o perfeccionismo, para deixar àqueles de quem gosto uma ideia prática da responsabilidade em olharmos à nossa volta e não deixarmos passar despercebidas a luz e as sombras de cada instante. Mas também, dar conta de fragrâncias e sabores que me toquem, dar nota de outros estímulos aos meus sentidos e, dar eco dos criadores do Belo.
E
sábado, outubro 31, 2015
sexta-feira, outubro 30, 2015
quinta-feira, outubro 29, 2015
quarta-feira, outubro 28, 2015
Dia 12 de Outubro, dia de Festa (3)
A fotografia do Dia, foi conseguida no meio de um diálogo em “quatro” línguas, decorrente do atrevimento na interpretação ou adivinhança sobre quem são os outros que desconhecemos.
Três raparigas tiravam fotografias umas às outras com uma digital reflex, e “escolhida” a fotógrafa, solicitei-lhe em francês que accionasse a máquina que depositei na sua mão e nos fotografasse; quando lhe agradeci, de novo em francês, respondeu-me em inglês, e depois virou-se para as companheiras e ironizou em castelhano porque razão não havia utilizado a “minha língua”. Lá descansei a jovem, dizendo-lhe em portinhol que afinal, era Português e lá nos despedimos em português e espanhol (ainda…).
Neste Dia de Festa, o almoço, para “variar” foi Italiano, num cantinho aconchegador perto do Centro Pompidou, e o dia acabou nos jardins das Tulherias a ver o por do sol, com a Torre bem no horizonte; pelo meio, as “compras da viagem”, blocos, pincéis, lápis de cera e artefactos para trabalhar com barro!
Três raparigas tiravam fotografias umas às outras com uma digital reflex, e “escolhida” a fotógrafa, solicitei-lhe em francês que accionasse a máquina que depositei na sua mão e nos fotografasse; quando lhe agradeci, de novo em francês, respondeu-me em inglês, e depois virou-se para as companheiras e ironizou em castelhano porque razão não havia utilizado a “minha língua”. Lá descansei a jovem, dizendo-lhe em portinhol que afinal, era Português e lá nos despedimos em português e espanhol (ainda…).
Neste Dia de Festa, o almoço, para “variar” foi Italiano, num cantinho aconchegador perto do Centro Pompidou, e o dia acabou nos jardins das Tulherias a ver o por do sol, com a Torre bem no horizonte; pelo meio, as “compras da viagem”, blocos, pincéis, lápis de cera e artefactos para trabalhar com barro!
terça-feira, outubro 27, 2015
segunda-feira, outubro 26, 2015
domingo, outubro 25, 2015
sábado, outubro 24, 2015
sexta-feira, outubro 23, 2015
Dia 12 de Outubro, dia de Festa (2)
Para Santo Agostinho, “as pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas, e no entanto elas passam por si mesmas sem se admirarem ". Ora se a conclusão se mantém, com as alterações que o Mundo e as sociedades vem sofrendo, hoje, viajamos também para comemorar factos, aprender conhecimentos, e registar no inconsciente algumas das ilusões dos que intervieram e intervêm na criação dos ambientes que moldam a vida real.
O Dia 12 (a manhã) começou na “Festa” que o Metro Parisiense tinha para nos presentear, onde nas horas mais calmas, ou menos concorridas de gentes para o trabalho, sobra o espaço para tocadores e cantantes. Uma longa viagem de (M), numa das linhas que atinge os arredores, até à última paragem fomos brindados com uma jovem dupla masculina que foi dando um concerto de música pop com os Beatles em primeiro plano, e com frequentes aplausos nos curtos intervalos entre cada composição. Antes de abandonar o comboio muitos viajantes lá deixavam uma moeda ou até uma nota num chapéu bem fundo pousado no chão da carruagem.
O Dia 12 (a manhã) começou na “Festa” que o Metro Parisiense tinha para nos presentear, onde nas horas mais calmas, ou menos concorridas de gentes para o trabalho, sobra o espaço para tocadores e cantantes. Uma longa viagem de (M), numa das linhas que atinge os arredores, até à última paragem fomos brindados com uma jovem dupla masculina que foi dando um concerto de música pop com os Beatles em primeiro plano, e com frequentes aplausos nos curtos intervalos entre cada composição. Antes de abandonar o comboio muitos viajantes lá deixavam uma moeda ou até uma nota num chapéu bem fundo pousado no chão da carruagem.
quinta-feira, outubro 22, 2015
quarta-feira, outubro 21, 2015
terça-feira, outubro 20, 2015
segunda-feira, outubro 19, 2015
domingo, outubro 18, 2015
sábado, outubro 17, 2015
A Reinstalação do Cromeleque do Xerez
Erguido cerca de 5 000 anos antes de Cristo por uma comunidade
pré-histórica de agricultores e pastores, talvez num ritual de apropriação do
vale cujo centro geográfico parecia assinalar; usado e reutilizado durante mais
de mil anos como espaço de culto, magia e memória pelos descendentes dos
fundadores; por fim, abandonado e esquecido durante milénios, o CROMELEQUE DO
XEREZ, redescoberto quase por acaso há pouco mais de trinta anos, renasceria
para nova mas fugaz vida em 6 de Maio de 1972 quando alguém fez reerguer sobre
a cova original o grande menhir fálico. As pedras do Xerez, identificadas e
ordenadas uma a uma num gesto típico da racionalidade do Século XX,
transformadas de novo em memorial colectivo e marca territorial, recuperaram
parte da magia original. Na sua singularidade formal e magnífico enquadramento,
o Cromeleque do Xerez em breve conquistaria o papel de ícone cultural
pré-histórico do Alentejo, conferindo ao vale que o acolhia e onde era
procurado por numerosos viajantes e turistas, um encantamento muito especial. A
28 de Novembro de 2001, o grande menhir do Xerez foi de novo apeado e
transportado para fora do vale com os restantes monólitos que o enquadravam. Num
acto conscientemente assumido pela mesma comunidade que anos antes o recuperara
do esquecimento, tal atitude anunciava nova e profunda transformação das terras
do Xerez que perdidas referências que presumíramos quase eternas, rapidamente
se viram inundadas pelas águas represadas do Guadiana.
Deslocadas e guardadas durante meses, as pedras afeiçoadas
do Xerez encontraram poiso junto à Orada de Monsaraz e mais uma vez, em acto
não isento de algum ritualismo, reerguidas à justa medida da intuição do seu
redescobridor. Perdido, há muitos milénios, o seu enigmático contexto fundacional,
o Cromeleque do Xerez (reinstalado) assinala a partir de agora, não apenas um
território transfigurado pela insaciável vertigem humana de mudança mas uma
nova e paradigmática simbologia memorial. De facto, enquanto única estrutura
monumental que foi decidido salvar e recuperar do vale inundado pelo Alqueva,
apesar da vastíssima operação de pesquisa arqueológica aí empreendida, a
excepção do Cromeleque do Xerez, transladado e reerguido face ao grande lago,
acaba por assumir no seu simbolismo telúrico e singularidade formal, um novo e
solitário estatuto de monumento, à vez pré-histórico e contemporâneo, levantado
pelos homens do Século XXI à mais remota memória histórica do inundado
território de Alqueva.
Foi ano de 1969 que alguém, atento no aspecto e forma de uma
grande pedra deslocada por trabalhos agrícolas na Herdade do Xerez (ou do
Xarez), alertou José Pires Gonçalves, para a possibilidade de se estar perante
descoberta semelhante ao menhir do Outeiro, grande monólito de forma fálica que
pouco tempo antes aquele conhecido médico de Reguengos de Monsaraz,
historiador, antropólogo e arqueólogo nas horas vagas, tinha identificado e
feito reerguer no local do achado, próximo da aldeia do Outeiro. Ao proceder ao
reconhecimento da nova descoberta, a Sul da colina fortificada de Monsaraz e no
centro de um extenso vale aberto a Nascente sobre o Guadiana e a meio caminho
entre os Montes do Xerez de Baixo e do Xerez de Cima, Pires Gonçalves teve
oportunidade não apenas de confirmar a origem pré-histórica da grande pedra
tombada, como de verificar que estava associada a um verdadeiro "ninho de
menhires" deslocados e amontoados pela maquinaria agrícola. Conhecedor dos
trabalhos de Henrique Leonor de Pina que na região de Évora havia dado a
conhecer poucos anos antes os Cromeleques dos Almendres e da Portela de Mogos,
Pires Gonçalves resolveu aprofundar o reconhecimento arqueológico dos achados
do Xerez, tendo descoberto a estrutura de sustentação do menhir de maiores
dimensões, bem como indícios das covas de implantação de outros. Considerando
os dados observados, Pires Gonçalves interpretou o conjunto de meia centena de
monólitos de dimensões variáveis, alguns afeiçoados e com gravações rupestres,
como vestígios de um recinto megalítico pré-histórico entretanto desmantelado.
Ao promover a sua reconstituição em 1972 e tendo em conta os resultados da sua
própria investigação, viria a decidir-se por um quadrilátero, estabelecido a
partir do menir central e com os lados orientados no sentido dos pontos
cordiais, uma forma pouco comum e algo controversa mas de que são conhecidos
exemplos similares no Norte da Europa. Apesar de Reguengos de Monsaraz, graças
aos estudos de Georg e Vera Leisner nos anos quarenta do século passado, ser já
então considerada terra de antas e de dolmens, foi com as novas descobertas e
trabalhos sobre menhires realizados nos anos sessenta e setenta (Cromeleques do
Xerez, do Monte da Ribeira e dos Perdigões, Menhires do Outeiro, da Belhoa ou
de Santa Margarida, entre outros) que a região começou a ser conhecida e
procurada, por investigadores ou simples turistas, como um grande centro
megalítico. Para esse reconhecimento, o monumento restaurado do Xerez,
entretanto classificado como Imóvel de Interesse Público em 1986, contribuiu
por certo de forma absolutamente decisiva.
A nossa primeira visita Familiar em 1982
A especial localização do Cromeleque do Xerez, no centro de
extenso e fértil vale, orientado de Poente a Nascente e drenando directamente
várias linhas de água para o grande Rio Guadiana, acabaria por estar na origem
de novo sobressalto sofrido pelo monumento. Com efeito, a quando da sua
identificação e restauro, já o destino daquelas e de muitas outras terras
ribeirinhas do Guadiana, entre Alqueva e Juromenha, numa extensão nunca antes
vista, estava praticamente decidido pela construção de uma barragem que
afectaria os testemunhos materiais, conhecidos ou desconhecidos, de milénios de
História. Em 1967, ainda antes da descoberta do Cromeleque do Xerez, Afonso do
Paço, o arqueólogo que acabava de revelar o potencial arqueológico do vizinho
sítio romano do " Castelo da Lousa", também ele ameaçado, chamava a
atenção enquanto Presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, para a
necessidade de uma grande campanha que, antes da construção da barragem,
identificasse e estudasse o património ainda por descobrir no Vale do Guadiana.
Ainda que de forma muito condicionada pelas vicissitudes que o próprio projecto
do Alqueva conheceu até à sua concretização muitos anos depois, o apelo de
Afonso do Paço, secundado por Pires Gonçalves e outros arqueólogos entretanto
desaparecidos não foi em vão. Aproveitando estudos anteriores mas ganhando
especial fôlego a partir de 1995, a EDIA promoveria até praticamente ao fecho
das comportas da grande Barragem em 2002, um vasto plano de prospecções,
levantamentos, estudos e escavações, naquela que é considerada a maior operação
de salvamento arqueológico jamais realizada em Portugal e uma das maiores de
sempre mesmo à escala internacional. Só no vale tutelado pela presença do
Cromeleque do Xerez foram realizadas dezenas de sondagens e escavações,
comprovando a especial importância destas terras, ao longo de todas as épocas
históricas. A poucas centenas de metros do Cromeleque, situava-se uma das
muitas antas localizadas na região pelos Leisner, a " Anta do Xerez de
Baixo", entretanto escavada e protegida antes da subida das águas.
Vestígios do Paleolítico Médio e Superior foram localizados no vale e na sua
envolvente imediata, com particular destaque para o sítio dos Sapateiros 2, na
proximidade da nova ponte do Guadiana. Já nas margens do Rio, junto do que
sempre foi um importante vau de travessia, seria descoberta um dos mais importantes
sítios pré-históricos do Alqueva, revelando vestígios raríssimos de um local de
caça, datados do Epipaleolítico {Barca b Xerez de Baixo) e mostrando a
importância do Rio para as úItimas comunidades de caçadores recolectores deste
território. Para além da referida anta acabariam também por ser localizados
escavados em diversos pontos do Vale, sítios e estruturas contemporâneas da
construção do Cromeleque e associáveis às comunidades neolíticas que o
frequentavam, merecendo especial destaque o sítio de habitat que recebeu o nome
de Xerez 12, onde foram descobertos quase intactos diversos fornos de argila
relacionados com a vida doméstica. Em períodos mais recentes da Pré e
Protohistória, os vestígios parecem ser menos abundantes nas terras baixas e
concentrar-se em povoados, por vezes já fortificados, nas colinas envolventes,
como é o caso do alto de S. Gens (onde ainda hoje se ergue uma atalaia
medieval) ou a própria colina de Monsaraz, com vestígios que fazem recuar a sua
origem, pelo menos à Idade do Bronze. Mas em época romana, a exploração
agrícola e mineira do vale deve ter sido intensa como o provam a grande
densidade de achados atribuídos a essa época. Não muito longe do Cromeleque,
nas proximidades da demolida Ponte de Mourão, o sítio chamado Xerez de Baixo
13, revelou-se como um grande habitat relacionado com a actividade de
exploração mineira na época romana. A presença do vau ou "porto" da
Barca, que servia a antiga estrada de Mourão para Monsaraz, protegido por
velhas atalaias, especialmente activas nas guerras da Restauração e que a
arqueologia também estudou, ajudam a contextualizar os vestígios de ruínas mais
recentes, antecessoras directas do grande Monte do Xerez de Baixo, sede da
Herdade agrícola durante as últimas décadas e, entretanto, também desactivado e
demolido.
A densidade e importância dos vestígios arqueológicos, se
bem que excepcional no Vale do Xerez, constituiu uma surpresa comum a quase
toda a região de Alqueva. Mesmo sítios que julgávamos conhecer bem, como as
ruínas romanas do Castelo da Lousa, acabaram por revelar novos e surpreendentes
dados. Zonas até então verdadeiros "desertos" arqueológicos, como em
toda a margem espanhola do Guadiana, entre a Ponte da Ajuda e a Ribeira de
Cuncos, proporcionaram descobertas verdadeiramente extraordinárias, como o bem
conservado sítio romano de El Pico, o grande povoado calcolítico de San Blas,
ou mesmo o povoado islâmico de Cuncos, já para não falarmos das inesperadas
descobertas de Arte Rupestre. Apesar disso, considerando a natureza dos
impactes negativos provocados pelo processo de inundação, a estratégia de
salvaguarda dos vestígios identificados assumiria um cariz essencialmente
preventivo, passando antes de mais pelo seu estudo e registo tão abrangente
quanto possível. Os dados científicos observados no terreno e a sua posterior
interpretação e divulgação, são nestes casos os
instrumentos possíveis ao serviço da "minimização", mesmo que
alguns dos materiais recolhidos, apesar do seu carácter fragmentário, possam em
ambiente museológico ajudar a contextualizar o discurso sobre o passado da
região, como acontece no pequeno Museu da Aldeia da Luz, construído e gerido
pela EDIA. Com esse objectivo, nalguns casos excepcionais, algumas estruturas
isoladas foram também recuperadas para futura exposição, como aconteceu na
Barca do Xerez de Baixo e no Xerez 12. Por outro lado, quando justificado pela
natureza e estado de conservação, foram também tomadas medidas de protecção de
estruturas "in situ", através da sua "selagem". Tal
aconteceu, por exemplo, em todas as antas afectadas, nomeadamente na Anta do
Xerez de Baixo, protegida por uma carapaça de terra e pedras, fazendo lembrar a
mamoa que a terá coberto originalmente. Neste âmbito, porém, a intervenção mais
espectacular, viria a ser concretizada no Castelo da Lousa, envolvido por um
gigantesco sarcófago de sacos de areia e betão que se espera poder preservar
esta ruína romana para um futuro já sem barragem. Neste contexto, a
transladação do Cromeleque do Xerez, acabaria por assumir um carácter de
excepção absoluta em Alqueva, até porque no caso que mais se lhe aproxima, a
nova Igreja Matriz da Luz, estamos perante uma "reconstrução-cópia"
na qual apenas foram integrados alguns elementos originais. Arqueólogos e arquitectos,
conscientes de que este monumento pré-histórico (qualquer monumento, afinal)
mantinha uma estreita relação com o meio envolvente e que a escolha do seu
local de implantação obedeceu a cânones e rituais complexos cujo protocolo e
significado nos escapará para sempre, sabiam que a decisão de reinstalar o
Cromeleque não era simples nem automática. É certo que o "restauro"
de há três décadas, obedecendo a pressupostos que os novos estudos não vieram
contradizer, facilitava aquela opção. Realizadas novas e completas escavações
conduzidas em 1998 por Mário Varela Gomes, a primeira fase da transladação
(desmonte, transporte e armazenamento dos menhires) viria a realizar-se em
Novembro de 2001, cerca de três meses antes do fecho das comportas da barragem
de Alqueva. Na escolha da nova localização, estando fora de causa reproduzir
contextos irrepetíveis, acabaram por pesar essencialmente os critérios de
circunstância e oportunidade. A disponibilidade por parte da Junta de Freguesia
de um terreno situado nas proximidades de Monsaraz, junto ao Convento da Orada,
com espaço, acessos e condições para aí vir a ser construído um dia um grande
museu de Arqueologia, seria o ponto de partida para a solução encontrada,
entretanto projectada pelo arquitecto paisagista Daniel Monteiro e por fim
concluída em Junho de 2004 pela Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz com o
financiamento da EDIA.
O Cromeleque do Xerez foi dado a conhecer ao meio arqueológico
em comunicação proferida por J. Pires Gonçalves em Fevereiro de 1970 na
Associação dos Arqueólogos Portugueses, sendo a mesma publicada naquele ano na
revista da AAP, Arqueologia e História, VII., sob o título "Menires de
Monsaraz". Depois disso foi regularmente referido em artigos e estudos
sobre o megalitismo e a sua imagem ilustrou praticamente todas as sínteses
sobre a Pré-história portuguesa. O arqueólogo Jorge Pinho Monteiro, enquanto
assistente da Universidade de Évora e responsável por um primeiro Plano de
Arqueologia para o Alqueva (1979), chegou a iniciar um novo levantamento do
Cromeleque que não concluiria devido à sua morte precoce. Por convite da EDIA,
Mário Varela Gomes escavou integralmente o monumento no ano de 1998, tendo publicado
extensa e completa monografia sobre o mesmo no 2º volume da série
"Memórias d'Odiana", EDIA, 2000, sob o título "Cromeleque do
Xerez, a ordenação do caos". O projecto da reinstalação é da autoria do
Arquitecto Paisagista Daniel Monteiro.
António Carlos Silva, EDIA, Julho 2004
Com a reinstalação junto a Monsaraz do CROMELEQUE DO XEREZ,
concretiza-se mais uma das medidas identificadas no Plano de Minimização de
Impactes Arqueológicos de Alqueva, aprovado pelo Ministério da Cultura no ano
de 1997. Passo a passo, acompanhando o desenrolar das múltiplas fases e
componentes do Empreendimento, um vasto leque de acções de levantamento, estudo
e salvaguarda patrimonial, sem paralelo à escala nacional, tem vindo a ser
promovido pela EDIA, provando mais uma vez que o Projecto de Alqueva não é (nem
podia ser) apenas uma grande Barragem. Nesse contexto, mais do que preservar e
estudar preventivamente por mera obrigação legal, umas "pedras" ou
uns "cacos", a actividade patrimonial e ambiental em Alqueva procura
ser transversal a todo o projecto, contribuindo também (de forma exemplar,
julgamos nós) para o objectivo do desenvolvimento sustentado. Seja pela
promoção indirecta de novas actividades empresariais com reflexos na criação de
emprego qualificado, seja pelo enquadramento e apoio a projectos regionais
inovadores de âmbito cultural ou científico, seja, como é o caso, pela
recuperação, valorização e divulgação dos valores ' patrimoniais e ambientais
próprios capazes de darem suporte não apenas a um turismo de qualidade mas sobretudo a uma melhoria
efectiva dos níveis de qualidade de vida e jèJÊ. de auto estima das populações
locais. O Cromeleque do Xerez, evoca antes de mais os seus fundadores
originais, os primeiros agricultores que assim terão assinalado o seu
estabelecimento nas terras do Guadiana há mais de 6 000 anos. Hoje,
reconstruído junto à Orada face ao grande lago de Alqueva, evoca também o
futuro que queremos construir, de desenvolvimento harmonioso e sustentado, para
todo o Alentejo.
Joaquim Marques Ferreira
Presidente do Conselho de Administração da EDIA - Julho de
2004
sexta-feira, outubro 16, 2015
quinta-feira, outubro 15, 2015
quarta-feira, outubro 14, 2015
terça-feira, outubro 13, 2015
segunda-feira, outubro 12, 2015
Dia 12 de Outubro, dia de Festa
Sto. Agostinho
Sem sentimentos religiosos, sirvo-me de uma das mais belas frases da História para abrir este dia.
Claro que, conscientemente, os nossos muito e pouco não se pesam e muito menos se comparam com o Mundo “Imperfeito” que à nossa volta dia a dia reduz a condição humana a pó.
Passadas que estão já muitas dezenas de anos juntos partilhando afectos, ideias, projectos, realizações, alegrias e tristezas, encontramo-nos mais ou menos como aqui,
alegres pelo passado, e preparados para aceitar continuar da mesma forma, vivendo o resultado da adição da vontade de solidificar a união dos corpos que gerámos, que geraram outros corpos, para que estas linhagens continuem a brilhar enquanto houver Universo.
domingo, outubro 11, 2015
O povoamento do Baixo Guadiana
A visita ao monte da Silveira, foi obra do destino, mas embora em ruína, a importância daquele património construído para a compreensão do povoamento do Baixo Guadiana impunha não apenas a sua revisitação para o aprofundar das imagens, mas mais importante, a procura de textos que ajudassem a explicar o seu passado, e compreender o olhar ainda possível sobre o seu presente.
Quando regressávamos da nossa primeira visita, cruzámo-nos na estrada com um habitante das cercanias com quem trocámos breves palavras e ainda ficámos a saber que “ lá mais para baixo” há um outro antigo aglomerado habitacional agora desabitado. Passámos por Silveira, depois por Fonte Zambujo de Cima e no seguimento da estrada perante um cruzamento que propunha continuar pelo alcatrão ou mudar para um caminho de terra batida com uma tabuleta indicando a direcção de Portela, decidimos prosseguir confortável até um "largo” onde largámos o carro, e de máquina em punho entrámos por Fonte Zambujo de Baixo dentro, um conjunto habitacional desconforme, ocupando o relevo do terreno com alguma ruína, construções antigas bem conservadas e outras “modernizadas com o império da cal.
Experimentámos algumas imagens, rodeados do ladrar de aviso de vários cães, até que numa esquina descortinámos o aceno de um homem de idade, sentado num poial com uma bengala entre as pernas, e que perante uma “boa tarde” me convidou para sentar “ um bocadinho” a seu lado. E lá fiquei cerca de meia hora a ouvir o Senhor Zé Brás um antigo pastor, rodeados por algumas abelhas ameaçadoras, contar histórias da vida e da Terra, e prometi-lhe voltar, desta vez com pelo menos uma caneta e um bloco notas, já que a informação era tanta sobre temas tão variados e palavras desconhecidas, que o seu registo mental não podia ter sido rigoroso.
Com o tempo contado, já não voltei a Silveira, mas parei no poço que servia o Monte, onde encontrei água num ano de seca extrema, e afastei algum do pó com que o vento me brindou no percurso até um ponto onde supostamente encontraria um círculo perfeito de horizontes!
sábado, outubro 10, 2015
J’AIME LES PANORAMAS - S’APPROPRIER LE MONDE
Na introdução explicativa à exposição - “J’AIME LES PANORAMAS” S’APPROPRIER LE MONDE – fica a saber-se que o fenómeno da representação circular das paisagens foi criado “simultâneamente” na Suiça pelo cientista Horace-Bénedict em 1776 e na Escócia pelo pintor Robert Barker em 1787. Vale a pena parar um pouco para sorrir sobre a “qualidade” do tempo em que um decénio não perturbava o conceito do simultâneo, e agora, nas artes é necessário não ultrapassar um minuto para evitar a irrealidade das ondas electromagnéticas da informação globalizada que espraiam as cores e as formas potenciando a cópia e impedindo, confundindo e aviltando a verdadeira paternidade.
Na geometria arquitectónica angular a que estamos confinados no interior das nossas casas, sabe bem utilizar um pedaço de parede para suspender uma imagem que a recorte com a ilusão de estar ali aberta uma janela para um mundo intenso e tão amplo quanto possível, mas que nunca vai para além da captura de cento e oitenta graus de horizonte, mais ou menos aproximados da prespectiva real.
A visita a esta exposição, aconteceu pressionados pela nossa filha V, que a considerava essencial para os que vivem entre a fotografia e a arte, e foi a nossa primeira oportunidade para apreciar uma instalação de uma fotografia circular, bem como os desenhos e as pinturas que o seu conceito também enquadrou quando através da pena ou do pincel, desenhadores e pintores tinham tendência para alargar os horizontes das suas obras.
A fotografia circular, dos tempos “antigos” obrigava a um exigente trabalho técnico de montagem dos sucessivos fotogramas rigorosamente impressos, e a resolução final que acabámos por visitar requeria um amplo espaço ( cerca de quarenta metros quadrados ) que permitiu a sua colocação ao um nível do olhar de uma pessoa com um altura “normal”, e uma iluminação equilibrada de todo o conjunto que facilitou a observação de todos os detalhes e do efeito de conjunto.
Com a tecnologia digital, podemos imaginar planificar com facilidade todo o horizonte, mas nada se compara, à iluminação natural sem a descontinuidade dos requebros gerada pelos reajustes dos fotómetros, e à Intrepretação magnética do nosso observatório central. Podemos fazer um ensaio circular, mas depois não temos meios de o projectar; aqui vai o exemplo de duas vezes cento e oitenta graus ao redor do menir do Padrão em Vila do Bispo.
sexta-feira, outubro 09, 2015
quinta-feira, outubro 08, 2015
quarta-feira, outubro 07, 2015
terça-feira, outubro 06, 2015
segunda-feira, outubro 05, 2015
A Arqueologia e a Herdade do Esporão, uma colheita de Eleição. (2)
No 5 de Outubro, um dia muito particular em ângulos muito variados, e ainda a propósito dos Perdigões, atrevo-me a uma reflexão sobre a Liberdade.
Na arqueologia de campo, existe a tendência (boa) para que cada investigador seja sugestionado pelos conteúdos dos círculos onde trabalha e se movimenta. A informação sobre o Mundo da pré-história está cada vez mais globalizada e acessível, e portanto a importância e o enquadramento de cada “nova” descoberta transforma muitas cartilhas, e provoca a quem vive no ambiente científico a avaliação permanente das metodologias interpretativas.
A pré-história, é o melhor dos ambientes para frutificar a dúvida sistemática, que abrange os espaços ocupados pelas populações, os registos por elas edificados e abandonados por razões desconhecidas, bem como todos os materiais que preenchem as camadas arqueológicas desde a base da primeira ocupação até ao estrato mais proximal. À medida que se passa do conhecimento dos sítios ao reconhecimento dos subsolos, e a novas localizações, alarga-se o campo de análise às relações entre cada agregado material e as hipóteses já em discussão para o enquadramento dos paralelismos. Uma ideia de arqueologia que não conviva com reservas mentais, fica cada vez mais forte com novos achados traduzidos em avanços no conhecimento.
Nos Perdigões, foram encontradas “FIGURAS ANTROPOMÓRFICAS” – “Personagens terrenas ou divinas, representações ou entidades vivas, estas figurinhas introduzem pela primeira vez na arte Pré-Histórica um corpo humano fortemente subordinado ao naturalismo e relembram que o esquematismo vigente na época resulta inequivocamente uma opção estética e não de qualquer incapacidade técnica” (in COMPLEXO ARQUEOLÓGICO DOS PERDIGÕES ed. ESPORÃO).
Já deixei expresso em vários apontamentos firme discordância com a “incapacidade técnica” na pré-história, que nunca poderá ser aceite sem um comprovado fundamento físico, e este é impossível de se justificar em populações que nos deixaram materiais líticos, em osso, marfim, metal, ou em cerâmica, resultantes de notável domínio sobre a matéria e forte determinação na relação da estética com a função prática dos “objectos”, em especial dos não “mudos”. Também é inaceitável, que na raça Humana tenha ocorrido um longo “desaparecimento” dos registos das capacidades inatas dos descendentes de gravadores e pintores paleolíticos, e que as opções estéticas das sociedades agro-pastoris ocupantes dos mesmos espaços geográficos tenham surgido por influência de gente com origem em paragens orientais que tenha entretanto vindo aportar ao mesmo território, como acontece com a introdução em muitos discursos da expressão “influência orientalizante”.
Ficará sempre por provar que nas primitivas sociedades agro-pastoris a classe dominante (a elite, para alguns) vivia à custa de um já diversificado conjunto de servos (caçadores, pastores, tecelões, ceramistas, etc) quem sabe se aconchegados numa guarda pretoriana, e a felicidade era apenas o resultado da satisfação de todos os seus “vícios”. Luís Raposo (LR), num artigo publicado há tempos no Jornal Público escrevia que “para o caçador do Paleolítico, o valor supremo era o ócio”, mas tal ideia colocada abstractamente no espaço e marcada num tempo, é redutora da capacidade de um Homem, que desde o “Neandertal”, terá tido sempre no pensamento a capacidade de exigência da liberdade, embora LR pretenda justificar tal atitude porque acha que a primeira das preocupações era então o “controlo da natalidade”.
É difícil entender o “ócio” na pré-história como uma manifestação do consciente, já que se aceita como característica humana, e com agrado, que a necessidade aguça o engenho, e naquele período da humanidade o desconhecido tinha uma tal dimensão que o olhar à volta como instinto defensivo também potenciava a descodificação das mensagens que a natureza transmite como uma espécie de transpiração. O ócio seria pois, e quanto muito, um instrumento de aprendizagem e ao mesmo tempo um estimulante cerebral. Se os construtores idealistas dos Perdigões encontraram aquele lugar completamente despovoado, tiveram pois a liberdade de pensar nos requisitos para cumprir o seu objectivo imediato de instalação, e as experiências passadas, e o “ócio” terão quiçá conduzido à definição da sua arquitectura organizacional em base astronómica, com as quatro entradas do complexo arqueológico em pontos opostos de duas linhas determinadas pelo nascimento e ocaso do sol nos solstícios de verão e de inverno.
O António Carlos Valera, discorrendo sobre os resultados nas escavações nos Perdigões, acha que os seus ocupantes não tinham ainda colocado a raça humana num patamar superior ao dos animais, pois interpreta como tal a convivência das representações animais e humanas em contextos de deposição funerária, e ainda no simbolismo funerário de um canídeo e o seu relevante enquadramento espacial no “recinto”.
À reflexão sobre a mais ampla das liberdades que é a criação, traduzida numa primeira fase em fazer um filh@, e depois em encontrar as condições para que esse ser possa sobreviver no meio ambiente hostil, não é indiferente (antes pelo contrário) à nossa experiência de vida e às transformações socio-culturais que fomos sendo capazes de apreender, e portanto quando se pretende discorrer sobre as representações zoomórficas ou antropomórficas na pré-história, falta a base de conhecimento do ambiente socio-cultural, que embora sempre evolutivo, também não sabemos se foi muito ou pouco descontínuo, e que factores exógenos às sociedades autóctones determinaram cada uma das alterações que julgamos estar traduzidas em alguns dos objectos (uns aparentemente votivos, outros ditos do quotidiano) que as escavações arqueológicas vão revelando, como é o caso dos chamados simplesmente de “ídolos” (ex. “figuras antropomorfas”).
Na pré-história, quando espontaneamente um artesão concebia um objecto ideotécnico, o prazer da liberdade criativa sublimava a identidade, regulava a sua responsabilidade para com a natureza que lhe comunicou o instinto dos processos criativos, deixando na arte não apenas uma impressão digital ao acaso, mas a construção de uma visão intimista do Mundo Ideal, que agora é impossível descodificarmos. No Museu do Esporão, estão hoje disponíveis algumas das traduções estéticas encontradas no sítio dos Perdigões que revelam a expressão de uma liberdade criativa, e de felicidade porventura inquestionável.
Se todo o ser tem direito à felicidade, a Liberdade é o valor supremo da Humanidade, sendo a privação da mesma contranatura. A ´”história” de que a liberdade de cada um acaba quando não se respeita a liberdade dos outros, é um aforismo, visto que o Homem encontra todos os dias “razões” para retirar a vida a milhares de seres humanos, seja por Leis que os Povos vão achando a cada momento adequadas, seja por causa de disputas fúteis, seja por razões ideológicas que justificam guerras mais ou menos “santas”, mas sempre através do poder do dinheiro, das burocracias de vários matizes desde a mediática à clerical, ou até mesmo porque “apetece”.
Na chamada liberdade civil, que segundo Vattel, é o “estado em que os cidadãos, desfrutando de sua liberdade natural, mas em que não está presente o bem público, estão sujeitos a um Governo regulado por leis e não a um poder arbitrário”, a privação da liberdade, só por si assente numa decisão discricionária, mesmo que “justificada” em disposições legais, traduz-se simplesmente numa forma de tortura.
Nas épocas da pré-história que mais aprecio, o período que abrange o neolítico final e o calcolítico, a criatividade tem uma forte acreditação na pureza das expressões plásticas, e embora possa não ser claro, acho que a sua coerência reflete uma forte expressão da liberdade, uma liberdade que se sublimava na descoberta, ocupação e desbravamento de um território desconhecido, que praticamente ainda não tinha donos, e em que as grandes preocupações de segurança se equilibravam entre as fontes dos perigos humano e animal.
A Liberdade está cada vez mais “cara”, morre-se todos os dias para a defender, e continua como sempre sendo objecto de preocupação, estudo e teimosia para todos os que consideram que a vida só tem sentido se for sendo justificada, tal como fazia o Homem da pré-história, que compreendendo “tanto” como nós sobre o segredo vital da criação do Universo, intuia que a ligação entre o passado e o seu presente devia ficar marcada na Terra, pelo menos nos ambientes funerários quando os corpos acabam esmagados pelo peso da abóboda celeste.
Construir a liberdade, será sempre tarefa do Arquitecto dos idealismos puristas.
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