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quarta-feira, setembro 21, 2016

O equinócio de Outono e a sua importância ao longo de milénios

O Verão está a acabar, o Outono segue dentro de algumas horas, e comemorar o equinócio e as suas relações com a vida Humana nem sempre se consegue fazer no dia e na hora exactos. Foi desta vez o caso; antecipando três dias, e deslocando uns centímetros o ponto no horizonte onde nasce o Sol, fomos até ao Dolmen de Soto (Trigueros, Huelva, Espanha), participar num evento arqueoastrológico, seguido de uma visita cultural, guiada, à Cidade.

A ArqueAstrenomia, procura explicações para o que considera serem inúmeras influências do “Deus” do Universo sobre os povos da pré-história que “viam” habitar sobre as suas cabeças, um Ser que lhes alternava o Sol com a Lua, que por vezes os eclipsava, que os cobriam de chuva e de neve, e que havia coberto o céu com aquele misterioso desenho luminoso, onde conseguiam “imaginar” figuras unindo determinados pontos luminosos. Claro que também lá estava, pelo menos, o Norte da bússola dessa época, na pessoa da Estrela Polar.

O Dolmen de Soto foi construído numa época muito próxima da construção das pirâmides do Egipto, e se para muitos o alinhamento das 3 mais conhecidas Quéops, Quéfren e Miquerinos corresponde à posição relativa das três estrelas centrais da constelação Orion, alguns estudiosos julgam encontrar idêntica representação numa gravação incisa de uma das estelas deste Dolmen, o que influencia as teorias que imprimem os encontros entre sinais permanentes de dependência astrológicas nas mais importantes decisões para as comunidades da Pré-história. A “decoração” mais comum no megalitismo da Península Ibérica são, entre nós Portugueses, as chamadas covinhas, cujo verdadeiro significado místico tem sido até hoje impossível de determinar, mas não chocará ninguém admitir que numa das tampas da corredor, a quarta a contar da câmara, cheia de covinhas, poderá estar gravado um mapa astral já que ao ser colocada naquela posição os mortos poderiam ali continuar a “observar” o astro.

A esmagadora maioria dos corredores dos dolmens e tholos ibéricos, está orientada para um qualquer “nascente” solar, e com os actuais meios técnicos de georeferenciação torna-se muito fácil discernir a posição no calendário anual do ponto exacto do horizonte fronteiro à porta de cada monumento funerário, mas a comprovação prática é um fenómeno de uma plasticidade luminosa única, como se pode observar neste filme sobre um outro monumento funerário situado também na Andaluzia.



Situados na pré-história todos estes monumentos estão situados num incerta amplitude temporal, já que, toda a datação de qualquer dos componentes mobiliários que os acompanham é feita com os meios de prova actualmente já disponíveis dentro de intervalos por vezes até seculares, e por isso deve tão só afirmar-se que o Dolmen de Soto terá sido levantado durante o chamado período Calcolítico (há cerca de cinco mil anos atrás), a partir de um conjunto de menires que terão feito parte de um cromelec circular erigido no Neolítico, quiçá mil e quinhentos anos antes, tendo os restantes ortostatos usados na construção das paredes laterais do corredor e da câmara funerária, bem como nas tampas de cobertura, provindo de locais distantes, tendo a jazida original mais afastada ficado a cerca de cinquenta km. É bom ter em conta que algumas das pedras pesam bem mais de uma centena de tonelada. 

A relação deste monumento com o espaço sideral está provada, pelo menos, com a orientação do corredor. Mal o sol conseguiu vencer os obstáculos naturais no horizonte, e despontou lá por cima de uma colina por detrás da Cidade de Niebla, pudemos observar os raios luminosos a progredir de intensidade ao longo do corredor até iluminarem parcial mas fortemente uma superfície basal do gigantesco ortostato da cabeceira da câmara, até que passados alguns minutos o interior do Monumento voltou a ficar iluminado de uma forma homogénea com a luz ambiente natural que o rodeava e pelas luzes artificiais colocadas no chão na base de cada um dos menires decorados; junto a oito destes, foram encontradas oito inumações individuais em posição fetal sentada.
Sentado eu no chão, vivo, perto do local de um dos últimos enterramentos, não sei se passei ou não pela mesma sensação, ou privilégio, que milénios atrás algum dos futuros “moradores” daquele espaço terá sentido, pois desconheço se o homem jazente que me antecedeu ali milénios atrás não teria apenas direito post morten a “fruir” daquela visão quando os seus contemporâneos abrissem a porta de par em par durante o equinócio para que a luz que dá a vida comunicasse com aqueles que vieram a estar ali sossegados, até que em 1923 uns tipos, os desalojassem, bem como aos objectos rituais que os acompanhavam, para que todos estes testemunhos fossem estudados por “especialistas”, e guardados uns em caixas e expostos outros em vitrines iluminadas com luz artificial. 

Como a maioria destes monumentos foram violados em épocas mais ou menos remotas, a constituição das “portas” de entrada é desconhecida, bem como os ritos da sua utilização, nomeadamente todo o cerimonial que envolveria os enterramentos, que ocorreria tanto fora como dentro destes Monumentos, como parecem ser interpretadas as estruturas postas a descobertos pelas equipas de investigação que os escavaram.  


 

Nesta ocasião, a ocupação civilizada da câmara do dolmen de Soto por 45 pessoas alinhadas ao mesmo tempo num dos lados, e em dois planos, um de pé e um sentado de pernas cruzadas, para uma observação “transcendente” não era permitida a recolha de imagens de forma adequada, e assim só posso deixar aqui um pequeno e fugaz apontamento.
 


As regras para uma convivência superior entre o nascimento e a morte não se estabelecem apenas à medida em que vamos envelhecendo e racionalizando as regras da vida, mas também tentando comprender como desde a pré-história foi sempre importante a relação entre o Homem e o Universo, ousando interpretar a herança material que sobreviveram às destruições naturais e humanas.http://alenteverde.blogspot.pt/search?updated-max=2016-06-10T00:00:00%2B01:00&max-results=70&start=67&by-date=false
http://dolmendesoto.es/


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