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sábado, junho 04, 2016

A arte tem utilidade?




Para se pensar nos discursos sobre a/s arte/s e a sua utilidade, é bom conhecer a solidez das suas primeiras manifestações, embora estas possam ter sido, ao mesmo tempo, ocasião, acaso, produto colateral, ou simplesmente a sublimação do ócio. Como os segredos do conhecimento só já são guardados pelas indústrias dos comércios frutuosos, poucas notícias importantes sobre a cultura escapam hoje à mediatização internauta, e vão portanto fazer-nos discorrer quase em tempo real sobre o ponto anterior ao do raciocínio em que nos encontrávamos ontem. Mas, também é claro, e não se pode ignorar que só uma pessoa “ anormal”, como é o caso de um Presidente da moda, podia já ter acedido, e lido tudo o que está publicado e à venda na Feira do Livro de Lisboa deste ano de 2016.
Como, felizmente, ainda se vão publicando alguns livros antes que os seus conteúdos transitem como genéricos na internet, seguindo para isso aqueles por uma rua paralela à dos medicamentos de fórmula aberta, e as comunidades da cultura Europeias foram e são assaz frutuosas, ainda é grande o esforço para se escrever sem descordo com o último ponto de situação saído da conjugação entre os contextos e as conclusões analíticas extraídas dos materiais recolhidos pelas prospecções arqueológicas invasivas, pelos cientistas que à luz das novas tecnologias apresentam importantes dados que apertam cada vez mais os intervalos das tabelas clássicas da evolução humana e ao mesmo tempo planificam de forma exacta as correntes migratórias entre continentes.
Talvez uma modesta reflexão sobre a arte préhistórica se pudesse resumir a um enumerado dos pontos de encontro entre os resultados das “dedadas” e os suportes que foram e vão chegando ao nosso conhecimento, mas não é isso que gosto de fazer quando procuro reflectir sobre imagens dessa arte vanguardista, já que estou condicionado pelas metodologias que fui aprendendo, por exemplo, para como fazer uma pintura numa parede de pedra, e pelos instrumentos de que pudemos dispor para o fazer, e por isso o que cada vez mais me importa é perceber como com tão “pouco” foi possível criar tanto.
Deixando de parte a especulação sobre o sentido em consentir-se admitir a existência do ócio na pré-história, a pior parte da raça humana de hoje vai-se tornando cada vez mais exigente na adopção da “perfeição” como regra de frutificar na vida para viver no ócio, e para isso conjuga o saber que se foi incluindo na chamada inteligência artificial com a actividade robótica, esta uma segunda arma destruidora de emprego e de inovação. Dir-se-á que estão descobertas já todas as necessidades primárias para uma sobrevivência equalitária; acho que sim. O Homem, aprendeu a extrair da natureza terrestre o indispensável para viver, extrai das atmosferas fontes de energia com que nunca sonhou, mas as elites já enviam para o espaço meios de busca dos segredos do Universo que lhe possam ser úteis para a satisfação das suas infindáveis ambições de poder.
O que virá a seguir logo se verá, mas não deixa de ser possível comparar o que o Homem foi prosseguindo no estudo do átomo e o que dele conseguiu extrair em tão pouco espaço de tempo, com os milénios que foram precisos para que o Homem pré-histórico conseguisse extrair de um mesmo bloco de silex com cerca de um quilograma, utensilagem de corte que foi crescendo de uns “míseros” dez centímetros até entre seis e vinte metros, sendo legítimo explicar esta evolução como uma simples necessidade material e não a rentabilização de um bem que naquela época encontrados os filões não podiam ser considerados como raros. Explicando melhor, no paleolítico inferior, duas ou três ajustadas percursões num núcleo produziam um bico afiado com cerca de dez centímetros de gume útil, mas com mais actividade sobre as margens de um mesmo núcleo podiam lascar-se mais gumes em toda a àrea aberta que a mão não segurava, podendo atingir-se cerca de quarenta centímetros. Partindo para a desmontagem do núcleo de sílex, as comunidades mais antigas do paleolítico médio já conseguiam produzir vários triângulos com cerca de dois metros de gume, e no chamado magdalenien já uma percursão mais técnica, desmontaca um núcleo em dezenas de lâminas podendo atingir-se um área total de gumes utilizáveis até cerca de vinte metros. 

Para se estudar a arte primitiva ou para perceber como usar um utênsílio, é preciso saber ler as instruções; algumas estão num quadrado de papel, outras em “forma” de livro, e para aceder a outras é preciso um moderno “utênsílio” que permita aceder à maior fonte de informação instantânea. Resumo a triologia numa simples imagem, e voltarei um dia destes aos primórdios da Arte.

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